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quinta-feira, novembro 13, 2008

Grinderman (uma música de John Lee Hooker) é Nick Cave e três companheiros de sua banda, a The Bad Seeds, com outro nome e outra sonoridade. Segundo o líder do projeto, a idéia surgiu quando os quatro quiseram juntar experiências e influências que não cabiam na discografia do grupo original. E são elas, assumidas publicamente: o passado punk de Cave com o Birthday Party; o trabalho em trilhas-sonoras e o gosto pelo Black Sabbath de Warren Ellis; o conhecimento de no-wave do baterista Jim Sclavunos; e o baixo com reverb que Martyn P. Casey apresentava na australiana The Triffids.

O álbum surgiu de apenas duas sessões de gravação. A primeira foi basicamente uma jam entre os músicos. Da segunda, já com as letras escritas por Cave, saíram as canções finais. O principal diferencial do tempo em estúdio e ao compor, dito por todos os integrantes, foi ter Cave tocando guitarra, pela primeira na vida. "De repente me ocorreu que 99,9% de todas as músicas do rock são criadas na guitarra, não no piano", disse Cave sobre a experiência. "Você tem a história do rock'n'roll na ponta dos dedos."

No fim das contas, ele se sai muito bem, mas não deixa de surpreender que o resultado é na maior parte das vezes cru, primal e direto. A distorção e peso que Cave inflinge nas guitarras lembra muito garage rock – pense em MC5 e Stooges –, inclusive pelo conteúdo das letras. Ao contrário da culpa e religião que povoam boa parte do legado de Nick Cave and the Bad Seeds, entra em cena o sexo e o ceticismo, sem, no entanto, deixar a indefectível verve narrativa de lado.

Em "No Pussy Blues", que nasceu para ser clássica, Cave canta a história de um músico envelhecido que se apaixona por uma fã jovem, mas não consegue levá-la para a cama de jeito nenhum – "Comprei uma dúzia de pombas brancas, lavei os pratos com luvas de borracha, a chamei de docinho, amor, mas ela ainda não quer, nunca quer", diz a letra, antes do vocalista gritar "droga" e entrar o refrão (?), distorção pura.

A dramaticidade e o sexo continuam no baixo viciante de "Depth Charge Ethel", sobre a prostituta viciada de mesmo nome, uma das pessoas mais felizes que Cave já conheceu; e em "Go Tell the Women", esta com a rotação diminuída, pelo menos na melodia ("estamos cansados e de saco cheio / desse chororô egoísta / tudo o que queríamos era um estuprinho consentido de manhã / e talvez um pouco mais à noite").

Outras pérolas são a psicodélica "Eletric Alice", cuja bateria e baixo remetem à "White Rabbit", da Jefferson Airplane, e a trágica história de "Love Bomb". Todas as onze faixas, no entanto, tem uma qualidade assustadora, e não importa nada quando Grinderman deixa de soar como tal para lembrar, hã, Nick Cave, como no par "Man on the Moon" e "When My Love Comes Down".

Os quatro integrantes do grupo devem fazer alguns shows para divulgar o disco, mas, ao mesmo tempo, estão ocupados em escrever as faixas para o próximo disco do the Bad Seeds. De qualquer forma, já declararam que tem muita vontade de continuar mantendo paralelamente o Grinderman. Esquizofrenia pra lá de saudável.