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sábado, maio 19, 2007

Pin Ups

Início dos anos 90. Sem o menor vínculo com o que era produzido no país, sem os benefícios da Internet, cantando em inglês e virando as costas para o mercado, guitar bands pipocaram pelo Brasil. Tanto pelo pioneirismo quanto pela qualidade, o Pin Ups tornou-se referência para esta primeira geração de bandas indies surgidas por aqui. Em constante sintonia com o que era produzido no exterior, os paulistanos deixaram uma respeitável discografia que deu à banda um status de intocável no underground nacional.

Formado em 1988, o Pin Ups é o mito do rock alternativo brasileiro. Quando os primeiros discos da cena britânica chegaram ao Brasil, a banda já era assídua nos palcos do Espaço Retrô – a casa mais cult de São Paulo, administrada pelo boa praça Roberto. Porém, a história começa um pouco antes.

Em 1987, Zé Antônio e Luís Gustavo ensaiaram com duas garotas, mas desistiram porque elas tocavam muito mal. Até então denominados Bela Molnar - referência à uma personagem do filme "Estranhos no Paraíso", de Jim Jarmush - decidiram testar alguns amigos até que encontraram Marquinhos, o quinto baterista a ensaiar com a dupla. Como um trio e rebatizados como Pin Ups, tocaram pelos buracos de São Paulo, até assinarem um contrato com a Stilleto, graças à ajuda do amigo Thomas Pappon, do Fellini.

A sonoridade da banda com o nome inspirado num disco de David Bowie, destoava de tudo o que era feito na época no Brasil e a sintonia com o que havia de mais moderno na Inglaterra e nos Estados Unidos mostrava uma banda de personalidade não só nos palcos, como no estúdio.

Apesar de várias referências saltarem dos sulcos do vinil e da capa do primeiro álbum, "Time Will Burn" (1990) foi o marco inicial de uma cena que já criou gerações de bandas cantando em inglês. Na capa, o trio formado por Zé Antônio (guitarra), Marquinhos (bateria) e Luís Gustavo (vocal e baixo) apresentava um visual típico de bandas inglesas que assolariam o Brasil anos depois.

A banda terminou em 2000. Esboçaram um retorno quando abriram shows do Mudhoney e, mais recentemente, do Pixies no Brasil. Depois da criticada apresentação no Curitiba Pop Festival, uma nova reunião é bastante improvável. Talvez você nunca tenha escutado nada deles, mas com certeza conhece alguma banda que tenha um ex-Pin Ups em sua formação. Ex-integrantes da banda tocam ou já tocaram no Garage Fuzz, Thee Butchers' Orchestra, Forgotten Boys, Biggs, Hats, Killing Chainsaw, Lava, Dominatrix...

Discografia Comentada:

Time Will Burn (Stiletto, 1990)
A estréia é calcada na estética shoegazer de bandas como Jesus and Mary Chain e My Bloody Valentine, vocais sussurrados e distorção comandam o disco. Mas não espere encontrar aqui os dedilhados de Just Like Honey ou os vocais dóceis de When You Sleep, o Pin Ups remete aos momentos mais pesados e soturnos destas bandas. O EP Feed Me With Your Kiss, do MBV, e as músicas In a Hole e Fall, ambas do J&MC, são ótimas para contextualizar o debute dos paulistanos. Semelhanças com o Sonic Youth também são perceptíveis, principalmente com a fase Evol dos nova-iorquinos.

Mesmo inspirado no lado mais sujo do shoegaze, Time Will Burn é um disco dançante. Graças ao groove da eficiente cozinha, o Pin Ups também podia ser ouvido nas pistas.


Gash (A Mellow Project by Pin Ups) (Zoyd, 1991)
Por mais paradoxal que possa parecer, várias bandas shoegazers se arriscaram em discos quase acústicos. Os irmãos Reid limaram as microfonias, apostaram em baladas e tangenciaram a perfeição em Darklands. O Pin Ups fez bonito com Gash, um disco que insiste em não soar datado. Dave Grohl é fã deste álbum. Anos depois de sua vinda ao Brasil com o Nirvana, ele disse, em uma entrevista, que o disco havia se tornado um dos seus favoritos.

Na primeira audição é comum conferir se a bolacha está na rotação certa. Mas o som é assim mesmo: viajado, chapante. Capaz de agradar aos fãs mais exigentes de Spacemen 3 e Telescopes, Gash triunfa ao trazer baladas introspectivas e melancólicas sem perder o groove da estréia. Fechando o disco, a recém-ingressa baixista Alê canta sua primeira música na banda, uma versão de A Day in a Life no melhor estilo Beatles meets Sonic Youth.


Scrabby? (Devil Discos,1992)
Produzido por João Gordo, Scrabby? traz de volta as guitarras no talo. O vocal agora é mais gritado. Em sintonia com o grunge, este terceiro álbum afasta a sonoridade indie britâica do início da carreira e remete aos momentos mais pesados dos Smashing Pumpkins. Neste disco, a banda regravou um hit da cena independente da época, Evisceration, dos piracicabanos do Killing Chainsaw, que por sua vez arrancaram elogios de Kurt Cobain em sua passagem pelo Brasil.

Jodie Foster (Devil Discos, 1995)
Jodie Foster marca o início da Trilogia Cinematográfica, o abandono do LPs e a entrada de uma guitarra-base na formação da banda. O som é punk e direto, poucas faixas mantêm a pegada mais arrastada de Scrabby?. Veloz e barulhento, é o disco mais indicado para fãs de Hüsker Dü. Ainda é possível encontrar resquícios do passado shoegazer, como em In a Hole, cover do J&MC, e Witkin, nitidamente inspirada em Sunny Sundae Smile, do MBV.

Lee Marvin (Spicy Records, 1997)
Mais coeso e melódico que o anterior, Lee Marvim escancara a influência dos americanos do Superchunk. É neste disco que Alê assume definitivamente os vocais. Com guitarras mais limpas e vocais suaves, Lee Marvin é o disco mais acessível da banda, cheio de hits em potencial. Como de praxe, o álbum traz ótimos covers: Frontwards, do Pavement, e Under Canvas Under Wraps, do Delgados.


Bruce Lee (Short Records, 1999)
A despedida da têm, a princípio, quatro faixas. To All Our Friends e Growing Up poderiam estar tanto em Lee Marvin quanto em um disco do Teenage Fanclub, os versos da primeira não deixam dúvidas de que o Pin Ups havia chegado ao fim: “the time that we have spent / together in our band / it was the most fun we ever had / we know it's hard to understand / we know, we know, we know it is hard / we know, we know, we know it's all right ...”. Depois de uma vinheta que lembra as viagens do Gash, vem a melhor parte do CD. Com 35 minutos, 12.12.1998 é a integra de um show acústico realizado nesta data. No repertório, clássicos do Pin Ups tocados em ritmo um pouco mais lento e covers de Superchunk, Beatles e até Kraftwerk.