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sexta-feira, março 23, 2007



Thee Headcoatees - Punk Girls - 1997

Existem alguns discos que nos parecem excelentes do ínicio ao fim. Se você gosta de rock´n´roll orgânico, sujo, autêntico, valvulado e direto, sem frescuras, cheio de produção, certamente você terá mais um episódio desta experiência ao ouvir os 28 minutos e 8 segundos do disco Punk Girls, que as Headcoatees lançaram em 1997.

Antes de falar da obra, é válido falar um pouco de quem são as Headcoatees. Antes de se tornarem as tais, as garotas (ou talvez seja melhor dizer "as tias"...) Holly Golightly, Kira LaRubia, Bongo Debbie e Ludella Black eram as Delmonas, que cantavam acompanhadas pelos garageiros-revivalistas Milkshakes (um dos inúmeros projetos do prolífico Billy Childish - como você não sabe quem ele é ? - um dia eu te explico ). Mais tarde, Billy Childish criava os Headcoats, e as Headcoatees por sua vez, eventualmente os acompanhavam como backing vocals, e outras vezes, eram acompanhadas por eles como banda de apoio, enquanto elas eram as artistas principais.
O que é mais interessante, é o fato de que as Headcoatees ( bem como a maioria dos outros projetos de Billy Childish ) contrariavam as tendências do pop britânico de sua época, mantendo-se fiéis a sonoridade do garage rock dos anos 60 e dos primeiros passos do punk, dados no fim dos anos 70. E isso, sem nunca parecer nostálgico... Punk Girls é uma empolgante obra que põe o fato à prova, e que merece ser comentada faixa-a-faixa. Então, vamos lá!

1) Punk Girl - Como a maioria das faixas, Punk Girl é uma composição do Billy Childish. Tem bastante o clima das bandas punk do fim dos anos 70, antes do gênero adquirir ingredientes mais hardcore. Ao mesmo tempo, a faixa também tem uma cara de música de super-herói, e provavelmente apareceria no auge da ação da série televisiva Punk Girls - caso essas super-heroínas e a série existissem. O refrão, onde a frase "Punk Girl" é repetida de 4 maneiras diferentes, fica na cabeça.

2) Don´t Wanna Hold Your Hand - É uma sátira a I Wanna Hold Your Hand, dos Beatles, onde a pieguice da letra original é trocada por uma atitude mais "punk girl".

3) Billy B. Childish - Essa vai um pouco mais longe, com um clima que remete aos tempos pré-rock, com boas doses de Bo Diddley (e bom humor). Assim como este último costumava fazer, é uma música feita por um compositor sobre si próprio, com sua auto-participação. Na faixa em questão, o inglês cockney de Childish aparece quase no fim, onde ele diz algo como "They´re talking about Billy B. Childish, hahaha! That must be me!". O clima pré-rock antecipa um pouco os trabalhos que Holly Golightly lançaria posteriormente, como artista solo.

4) Teenage Kicks - Clássico da banda punk irlandesa The Undertones, revertido para um eu-lírico feminino. Na versão das Headcoatees, a música está um pouco mais tranqüila.

5) You´re Right, I´m Wrong - Indie, lenta e introspectiva. Esta música é um pouco diferente do restante da obra. Mas ainda assim, dá um bom efeito de quebra de clima.

6) Pinhead: Divertida cover do Ramones. Outras obras das Headcoatees, somadas a este cover, reforçam a idéia de que elas tinham uma certa obsessão pelo grito de guerra "Gabba Gabba Hey!".

7) Cara-Lin: Cover dos garageiros sessentistas novaiorquinos The Strangeloves. Rock básico e simples, bem puxado pela bateria.

8) Punk Boy: Dialoga com I Want a Punk Girl, dos Headcoats. Simples, e direta, tal como se fazia em 77.

9) Zig-Zag: Não sei se há alguma lógica nisto, mas essa música parece mesmo um... zigue-zague. Curtíssima, rápida, certeira e com acordes que pulam de um lado para outro.

10) Sticks and Stones: Mais uma faixa mezzo-punk-mezzo-garage. Se encaixa bem na estética do trabalho.

11) Shadow - Mais um clássico do punk rock. A original é do The Lurkers.

12) Ça Plan Pour Moi - Clássico do Plastic Bertrand (espécie de Supla belga). Tem frases longas, recitadas de maneira rápida e com um intenso clima non-sense. Dá vontade de aumentar mais ainda o volume (que já devia estar no máximo desde a primeira faixa), tocar uma air-guitar, pular e aprender francês; É o tipo de música que você se pega cantarolando quando está sozinho de carro - obviamente num francês não compreensível...

Chegando ao fim, você perceberá como seus últimos 28:08 minutos foram bem aproveitados (ou quem sabe, seus últimos 28:08 + 28:08 + 28:08 + ... + 28:08 minutos...)! Às vezes é impressionante a força que uma produção simples, porém sincera, consegue ter...

Se algué quiser esta preciosidade pode procurar pela internet ou então pedir enprestado, que eu não empresto afinal.........traduzindo a faixa nº-5 - Você esta certo, eu estou errado.....

sexta-feira, março 09, 2007


SPACEMAN 3
"The Perfect Prescription" (Glass, 1987)


Inglaterra, Verão de 1987. A atenção dos gurus que escrevem no New Musical Express e no Melody Maker divide-se entre o anunciado fim dos The Smiths e o primeiro álbum dos Happy Mondays. As bandas indie começam a deixar as guitarras na garagem e a invadir as pistas de dança. Madchester estava a pouco tempo de distância. Neste contexto, quem repararia numa banda nascida no countryside das pequenas villages e que assumia uma postura deliberadamente reclusiva, à imagem das suas duas cabeças pensantes (Pete Kember, aliás Sonic Boom, e Jason Pierce, uma curiosidade sobre estes dois ultimos, os dois nasceram no mesmo dia do mesmo ano)? Contudo, nada disto impediu o culto à volta dos Spacemen 3 e a sua posterior influência (nomeadamente nos My Bloody Valentine e em todo o movimento shoegazer) que foi e continua a ser enorme.

Tão marcados pelo rock urbano dos Velvet Underground, Stooges e Suicide como pelo psicadelismo de colheita sixties (13th Floor Elevators), a música dos Spacemen 3 vivia de mantras de feedback e distorção, intercalados com momentos de extrema delicadeza e beleza acústica. Os Spacemen 3 caracterizavam-se por um som psicadélico, minimal, harmonias distorcidas ao limite, baseadas em guitarras e sintetizadores.Claro que as drogas ajudavam. Os concertos eram anunciados como música "for all the fucked up children of this world".

O segundo álbum "The Perfect Prescription", é uma obra conceptual que assumidamente pretendia documentar os vários estados duma experiência alucinogénea, viagem entre o inicial "Take Me To the Other Side" e a inevitável conclusão de "Call the Doctor". Pelo meio há tempo para o belíssimo "Walking with Jesus", aqui incluído numa versão desacelerada em relação ao original anteriormente editado em formato single.

Fossem ou não as drogas responsáveis, o que é certo é que as constantes zangas no seio do grupo acabariam por determinar em 91 o fim dos Spacemen 3, tendo Sonic Boom continuado numa desigual e pouco relevante carreira a solo e Jason Pierce preparando-se para altos voos com os fundamentais Spiritualized.

Nas palavras dos próprios, e título duma compilação póstuma de demos iniciais da banda, "Taking Drugs (To Make Music To Take Drugs To)"

terça-feira, março 06, 2007

Watts

Eles estiveram no Brasil para uma turnê eletrizante pelo Centro-Oeste e Sudeste e esquentaram as noites de quem pôde conferir o show. Se não deu tempo para você conhecer o trabalho do Watts ao vivo, não perca a edição brasileira do álbum.

Produzido por Jack Endino o álbum trata o bom rock garageiro como ele merece ser tratado, com porradas, uma atrás da outra. É assim o disco do Watts. Uma faixa melhor que a outra, uma sequencia de golpes para derrubar o ouvinte, de tanto pular ao escutar o quarteto fazer rock n’roll de verdade.

Eles moram nas proximidades de Seattle e mantém a chama acessa do rock n’roll. A formação clássica da banda conta com John Mortensen na guitarra ao vivo, para turbinar a barulheira. Alguns foram integrantes do histórico Mono-Men e estão na estrada desde 1998. Este é o primeiro álbum da banda, é foi lançado no Brasil pela Monstro Discos.

O hard rock setentista é uma as influências do poderoso Watts. “Misery”, “Goddamn Devil”, “Monkey Chain”, “Tarantula”, “Sweet Invicta” e é covardia não citar alguma faixa do álbum como uma das melhores. São ótimos músicos cantando com energia e ritmo. Goddamn, você já não consegue mais ficar parado. Dave Crider, além de integrante da banda é dono de uma das melhores gravadoras rock dos Estados Unidos, a Estrus (para saber mais acesse: http://www.estrus.com). Como trabalha com música boa, não poderia fazer algo diferente no álbum de sua própria banda. Melhor do que ler é escutar o Watts, eles têm a dose de energia exata para melhorar seu dia, o remédio para sua dor de cotovelo: o poder do rock n’roll.