Rockabilly Psicotico, garage bands, punk rock, bandas desconhecidas...

domingo, setembro 28, 2008


LOVE & ROCKETS

Gary Groth pode ser um baita linha-dura nas críticas em The Comic Journal, mas pelo menos é daqueles que não se limita a dizer; mostra como se faz: praticamente todos os maiores quadrinhos norte-americanos de vanguarda dos anos 90 estão no catálogo de sua editora, a Fantagraphics. Entre eles, legítima prata da casa, a coleção Love and Rockets.

Criada pelos "chicanos" irmãos Hernandez - Mario, Gilbert e Jaime - para um fanzine no começo dos anos 80, as histórias de Love and Rockets caíram no colo de Gary na mesma época, e ele decidiu apadrinhá-las com uma revista própria, no que deve ter sido a melhor decisão editorial de sua vida. No começo, Love and Rockets dispersava-se em historietas de ficção-científica e fantasia com algum humor, vagamente na linha da Heavy Metal. Com o tempo, duas séries destacaram-se, tomando todo o espaço da revista e a atenção dos leitores. Na primeira, acompanhávamos as aventuras de uma mecânica de foguetes, Maggie, seus relacionamentos com amigas e namorados. Posteriormente, Maggie abandona o emprego e a série se concentra nas idas e vindas amorosas ou não de Maggie, da punk Hopey, da mística Izzy, da adolescente Daffy, da britânica Terry e da loira Penny, todas protagonistas de suas histórias, situação tremendamente incomum nos quadrinhos. Inclusive por isso, a revista, junto com Sandman, é um dos nomes mais indicados quando se fala em quadrinhos que possam interessar mulheres. A segunda série tratava dos ocorridos de um povoado subdesenvolvido na fronteira dos EUA, Palomar, enfocado nas mudanças decorrentes da passagem do tempo e nas visitas inesperadas ao ramerrão diário. Tendo por pano de fundo um povoado inteiro, as histórias abrangiam dezenas de personagens complexamente interligados.

Talvez a maior indicação da qualidade dos Bros Hernandez esteja na dificuldade em se tentar definir sobre o que tratam as histórias. Este próprio texto acabou de rebolar na tentativa no parágrafo anterior. Trata-se de histórias que tipicamente escapam a classificações de gênero. Sua originalidade pode ser explicada em parte pelas pouco ortodoxas influências apontadas pelos irmãos: o movimento punk, bandas de rock alternativo, Archie Comics, contos orais de sua avó. Razoável que tenham se transformado em ponto de inflexão para os quadrinhos.

Já se comparou as crônicas de Palomar com o que Jorge Amado (ou, mais precisamente, Dias Gomes) e Gabriel Garcia Márquez, tentando uma identificação com o realismo mágico latino-americano, e de fato é possível encontrar paralelos entre a estrutura narrativa de Cem Anos de Solidão e a maneira como Gilbert desenvolveu sua criação, alternando coadjuvantes e protagonistas, indo e voltando no tempo e no emaranhado genealógico das famílias dum modo pouco explorado (até então) nos quadrinhos, o que levou Robert Crumb a comentar que nunca tinha lido nada como aquilo em quadrinhos, em literatura já, mas nos quadrinhos, nunca.

Já os desencontros, viagens e aventuras de Penny e Cia. têm um frescor de espontaneidade raro, uma naturalidade nos diálogos, linguagem corporal e situações que fazem o leitor crer que já viu ou viveu cenas como aquelas - e se não viveu, gostaria de ter vivido, de preferência no meio delas. Há um tipo de cumplicidade comum na literatura, de desejar entrar na balsa de Huck Finn, no carrossel de Holden Caufield, no vagão de trem de Sal Moriarty, ainda que raro nos quadrinhos, no qual o leitor fica aflito atrás de cada revelação das vidas de papel: afinal, Maggie e Hopey tinham ou não um caso lésbico? Penny Century se casaria ou não com Herv Costigan, o homem mais rico do mundo? Luba encontraria, algum dia, a felicidade do verdadeiro amor apesar de sua enlouquecedora família?

Da segunda metade dos anos oitenta para a primeira metade dos 90 Jaime e Gilbert acumularam prêmios, o primeiro como desenhista, o segundo como roteirista. Prendê-los nessas categorias, no entanto, é negar o talento para roteiro de Jaime para conduzir ações em paralelo em histórias longas, jogando com os cruzamentos sem perder o fio da meada, tanto quanto é negar capacidade de desenvolver seqüências eminentemente visuais de Gilbert - e se no começo seu traço ainda era meio tosco, o que levou muita gente boa a acusá-lo erradamente de fazer literatura ilustrada, isso não o impediu de produzir a magnífica Heartbreak Soup (Sopa de Gran Peña) nem de provar o quanto podia com seu traço com Errata Stigmata e com a própria turma de Palomar. Nesta mesma época, nomes consagrados como Frank Miller e Alan Moore apontavam os irmãos Hernandez como os nomes com quem gostariam de trabalhar junto.

Love and Rockets foi produzida incessantemente por quinze anos, sempre com os descompassos de ritmo produtivo entre o irmão mais rápido, Gilbert, e o mais lento, Jaime, com coletâneas em álbuns progressivamente impressas pela Fantagraphics, até a interrupção em 1996. Além do mencionado descompasso, pesaram na decisão o esgotamento criativo, a vontade nunca realizada de trabalhar com outras mídias (Love and Rockets não virou filme, não virou série na televisão, não foi para a internet) e o desejo de surfar em modo solo - Gilbert andou rabiscando aqui e ali. Ao fim de alguns anos, tais argumentos acabaram não se mostrando tão efetivos, posto que los bros decidiram voltar com Love and Rockets - primeiro em mini-séries, em seguida num formato menor do que a original, mas com a mesma graça e beleza de sempre. Já completaram duas décadas de vida explorando detalhes desconhecidos e nuances inesperadas da vida de cada personagem, com qualidade e inovação para outros vinte anos.

terça-feira, setembro 09, 2008

Replacements - Let It Be

Após o post de Pixies e Screaming Trees, pra fechar minha semana de posts de Rock Alternativo, um dos maiores nome dos anos 80 desse gênero, os Replacements.
Assim como o Hüsker , a banda nasceu em Minneapolis, no ano de 1979, com outro nome, que foi mudando até chegar neste que ficou conheçido no underground. A banda também tem outra semelhança com o Hüsker Dü, pois quando começaram a banda, tocavam um Punk Rock old school cheio de energia, lançando dois discos que não chamaram muita a atenção, mas foi com este disco, Let It Be, que a banda ganhou reconheçimento pelo público e pela crítica, e é considerado um dos melhores discos de todos os tempos, que tal?
Let It Be, foi gravado em 84, e mostra essa mudança pro college rock, e o cd já sai chutando tudo logo de cara, na country-rock "I Will Dare", têm as pseudo-hardcore "We're Coming Out", numa música com guitarras gritantes, e gritos alucinados num ritmo frenético. Músicas mais calmas, no pianinho bagaçeiro de "Androgynou", o hino da banda "Unsatisfied", numa melodia de quem tá de saco cheio, raiva e desespero em forma de música. E o mais interessante quando eu escutei esse disco foi um cover do KISS, com a música "Black Diamond", que incrivelmente ficou massa, numa versão rapidona mostram a facinação da banda pelo rock clássico.

domingo, setembro 07, 2008

:: THE GUN CLUB - “Fire Of Love” (1981)

Como surgidos do nada, os pioneiros do punk psuchobilly de Los Angeles chegaram com um álbum de estréia que ofuscou os seus contemporâneos californianos e foi fonte de inspiração para os White Stripes e muitas outras bandas de garage do século 21. O som é tosco, as letras frequentemente psicóticas e as canções... as canções são algumas das melhores do rock norte-americano.

A princípio escolheram o nome Creeping Ritual. Pierce e o guitarrista Kid Congo Powers formaram uma banda em 1980 para tocar na cena punk de Los Angeles. Pierce exibia uma gama ampla de influências (sobretudo blues, com toques de country e rockabilly), criando uma mistura selvagem. Cantava, uivava, gritava em canções que estavam enraizadas no sul mais profundo, com referências à “caça aos negros” e ameaçando “vou te foder até morreres”. É evidente que isto poderia ter sido muito ofensivo, mas canta com um brio tão teatral que o ouvinte se apercebe que ele está apenas a atuar. Ou não.

Em qualquer caso, canções como “Sex Beat”, “She Is Like Heroin To mE, “For The Love Of Ivy” e “Jack On Fire” são rock intenso e as leituras que Pierce faz do country blues como “Preaching the Blues” e “Cool Drinks of Water” sugerem uma imersão na música que supera o tenicismo enfadonho de Eric Clapton ou Gary Moore.

sábado, setembro 06, 2008


VÁRIOS ARTISTAS
"LOUD, FAST AND OUT OF CONTROL"
(THE WILD SOUNDS OF 50's ROCK)

Esta caixinha bacanérrima de 4 CDs, lançada pela Rhino em 1999, é uma das melhores pedidas pra quem quer se inteirar sobre os primórdios dessa Força Negra e Diabólica, Corrompedora da Moral e dos Bons Costumes e Desencaminhadora da Juventude que é o Rock and Roll (vade retro Satanás!).

Pelo menos era assim que esse novo estilo musical era visto pelas Forças da Tradição e do Bom Gosto quando caiu como uma bomba na cena cultural carola e reprimida dos anos 50, onde foi visto como profano, herético e perigoso... Viajem para uma época em que o movimento da pélvis de Elvis era considerado quase como uma revolução sexual e que os artistas eram frequentemente proibidos de tocar em lugares públicos ou até postos em cana por ousarem meter o rock and roll no dial.

"What is included here is just the raw stuff that set jukeboxes and radio dials aflame, and spread the word that rock and roll was something new, fun, wicked, and dangerous" - diz Cub Koda na All Music.

Centrada em sons de rockabilly, rhythm & blues acelerado, bluegrass maníaco e pitadas de surf rock e blues eletrificado, essa belezura reúne desde os bã-bã-bãs da época (Elvis Presley, Chuck Berry, Little Richard e Jerry Lee Lewis), até nomes menos conhecidos e que chegaram mais baixo nas paradas, mas igualmente importantes e excitantes (como Eddie Cochran, Gene Vincent, Bo Diddley, entre dezenas de outros). São 104 músicas saídas diretos do Coração Selvagem dos anos 50 que nos mostram os verdadeiros artífices e iniciadores dessa maravilhosa brincadeira de mau-gosto que é o Rock and Roll. Essencial.