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sábado, abril 11, 2009

Hate & War: Londres em 1977


Nós odiamos os humanos era o que a desesperançada classe operária britânica do final dos anos 1970 gritava nos jogos de futebol. Um misto de revolta com a classe burguesa e frustração com a vida decadente do bairro operário levou a juventude inglesa do período a níveis de loucura inimagináveis. A agitação do período traduziu-se musicalmente nas aclamadas bandas punks como os Sex Pistols, Clash, Damned, Buzzcocks. O estilo punk fazia a cabeça da maioria dos jovens pobres. Já os jovens com maior poder aquisitivo, faziam parte de um movimento conhecido como Mod Revival. A sonoridade era parecida, mas além da frustração, o estilo de vida Mod da década anterior serviu como influência para a geração revival.

Joe Strummer

Joe Strummer, além de um estudante universitário de arte revoltado com a vida foi também o frontman de uma das maiores bandas punks de todos os tempos: The Clash. O primeiro disco, o mais cru da discografia é um punk sujo impregnado de ódio. Os jovens suburbanos tremiam ao ouvir os poucos acordes tocados por Mick Jones. O maior problema de Joe e sua trupe eram os raivosos do The Jam. O experiente guitarrista Paul Weller não ia com a cara de seus conterrâneos. Eles pertenciam a movimentos “rivais”. Os The Jam pertenciam ao movimento Mod Revival, enquanto que o Clash despontava no recém reconhecido movimento punk.

A maior parte dos jovens londrinos do período, porém, freqüentavam tanto os shows do The Clash quanto do The Jam. Isso só alimentava ainda mais a briga de egos entre os dois grupos, ambos querendo ser os “maiores” da cidade enfumaçada. O bom de tanto acirramento é desfrutado por nós. Delinqüentes aficcionados por música. A disputa (ou o dinheiro) levou a um esforço sobre-humano dos músicos, o que consequentemente trouxe uma série de músicas de excelente qualidade. Prova disso é a extensão da discografia das duas bandas.

O primeiro disco do Clash foi lançado originalmente em 1977 e é o preferido entre os street punks, quem é vidrado nos Pistols também vai gostar mais do primeiro. O disco é punk até não poder mais, traduzia os principais conflitos existente entre os livre-pensadores e o Estado. Ele foi lançado em anos e em versões diferentes nos EUA (1979) e na Inglaterra. Uma peça pregada pelo próprio sistema. O mercado estadunidense gostava de discos mais produzidos e o dinheiro falou mais alto (pra sorte dos fãs que agora podem ouvir as duas versões). Os álbuns são bem diferentes, apresentam cinco faixas diferentes, e algumas músicas tem mixagens alternativas. A versão estadunidense conta ainda com uma faixa a mais: (white man) In hammersmith palais, a música com maior influência do reggae presente no disco.

Paul Weller

Ainda em 1977 foram lançados os dois primeiros álbuns do The Jam: In the city e This Is a Modern World. O movimento mod emergiu em meados de 1950, tendo atingido seu auge em 1964. O termo “mod” é a abreviação de “modern” e os modernos de 1964 eram facilmente reconhecidos, estavam sempre bem alinhados, pilotavam lambretas e trabalhavam feito loucos para bancar o estilo de vida desregrado. Para agüentar o tranco, as drogas preferidas eram as anfetaminas.

O que é bom mesmo são os discos de estúdio do Jam, em especial o primeiro e o terceiro. O primeiro disco fez a banda deslanchar com o hit “in the city”. Já o segundo disco não foi tão bem recebido pela crítica e somente em seu terceiro album, All Mod Cons (1978), o Jam recupera espaço. Principalmente, devido as faixas “billy hunt”, “in the crownd” e a versão do Jam para “david watts” dos Kinks.

No mesmo ano de lançamento do All Mod Cons o Clash aparecia com seu segundo disco, o Give ‘Em Enough Hope. Um álbum com apenas dez faixas, bem produzido e por sorte dos empresários, bem mais vendável. O álbum ficou mais bem colocado nos Charts, tanto no britânico quanto no estadunidense. Com esse disco é possível percebermos a mudança de rumo que iria se definir melhor no famigerado London Calling. O som sujo, mal tocado dava lugar à produção de estúdio e os Clash buscavam um esmero artístico maior.


No final de 1979 o Jam lançou seu segundo álbum de maior sucesso o Setting Sons, e, cerca de um mês depois, o Clash aparece com sua obra-prima o London Calling. Foi só aí que as bandas alcançaram o grande público, tendo o Clash inclusive estourado nos Estados Unidos, onde o Jam era pouco conhecido.

Enquanto o Jam continuava na mesma linha, com músicas parecidas as dos seus primeiros discos, o Clash aproveitava para inovar. Misturando bastante de ska e reggae com a ironia sagaz, típica de Strummer. O álbum foi o mais vendido do grupo, mesmo tendo sido lançado originalmente como um LP duplo. E até hoje o London Calling desponta como um dos melhores discos de todos os tempos.


Em 1980 o Jam alcançou o seu auge com o álbum Sound Affects. O Sound Affects é um disco visivelmente influenciado pelos grandes discos da psicodélia inglesa, como o Revolver, Sell Out e Village Green Preservation Society. Apresentando inclusive a música Start! que usa a mesma base de baixo que Taxman dos Beatles. É sem duvida o álbum mais aclamado da banda, tanto pelos fãs como pela crítica especializada. Dois anos mais tarde o Jam lança seu último álbum o The Gift, disco que fez bastante sucesso na época, tendo sido o que obteve maior sucesso comercial. Mas mesmo com o sucesso Paul Weller decidiu acabar com a banda após a turnê realizada na Inglaterra.

Enquanto isso, desfrutando do dinheiro e do sucesso que vieram com o London Calling o Clash lançou outro disco, dessa vez triplo: o Sandinista! de 1980, um disco que mistura mais gêneros musicais do que eu tenho a capacidade de diferenciar. É possível encontrar faixas próximas ao rap, como também com influência da música gospel. Os fãs não gostaram nada da misturança de gêneros. Já a crítica achou inovador e levou o álbum a sério até demais. O disco está na lista dos quinhentos álbuns de todos os tempos lançada pela Rolling Stone Magazine. Dois anos depois o Clash aparece com o Combat Rock, um disco menos ambicioso e com faixas mais consistentes. É nele que encontramos os sucessos “should i stay or should i go” e “rock the casbah”. Com ele a banda tenta voltar a suas origens apresentando um trabalho essencialmente punk. Os fãs são reconquistados, mas a ilusão dura pouco. Em 1983 Mike Jones cai fora e o Clash não é mais o mesmo. Se o fim parecia próximo, com o lançamento do último disco, Cut The Crap, ele foi confirmado. O disco não obteve nenhum sucesso e foi malhado pela crítica, também pudera.. o disco é uma merda.

Música é uma coisa que não adianta escrever sobre, é preciso ouvir.

domingo, abril 05, 2009

JustificarO início dos anos 90. Vendo a coisa toda agora por uma outra perspectiva, sou até capaz de afirmar que aquele foi um período maravilhoso! Até os hypes daquela época tinham sua dignidade. Hoje, quinze minutos de fama é muito. Lembro que antigamente bastava pegar um periódico qualquer, ou mesmo a velha Bizz e, se você fosse um cara esperto e atento, poderia encontrar nas notas de pé de página coisas realmente surpreendentes. Foi nessas que conheci e tentei acompanhar bandas que nunca deram em nada aqui no Brasil, como os Thee Hypnotics e o Gallon Drunk.

Quando surgiu lá pelo final dos anos 80, início dos 90, o Gallon Drunk logo virou sensação no circuito alternativo britânico. John Peel os adorava. Alguns singles lançados e a reputação de ótima banda ao vivo, bastaram para garantir a atenção da imprensa britânica, sempre ávida por novidades toda semana. Disseram até que eles eram a banda mais quente do momento. Também era comum os jornalistas associarem o grupo ao velho Birthday Party, o que, covenhamos, tem lá seu fundamento. Pois bem, o Gallon Drunk, ao contrário do que possa sugerir o que foi descrito até aqui, não era um mero hype. O grupo tinha (e ainda tem) consistência, personalidade e uma integridade à toda prova.Musicalmente falando, o Gallon Drunk é uma perfeita simbiose de todos os elementos que garantem 100% de acerto na hora de se criar algo com estilo: rockabilly, blues, dejetos de jazz, gospel, música de cabaré, e um climinha de filme B para acentuar o aspecto kitsch da coisa toda.A banda responde principalmente pela persona de James Johnston (vocal, guitarra, gaita, piano, órgão, etc...) Sim, tudo ao mesmo tempo! Johnston, além de comandar até hoje seu já veterano combo etílico, também costura para fora como guitarrista nos Bad Seeds do menino Nick Cave – que, inclusive, lançou ano passado um disco simplesmente matador! Mas voltando ao James Johnston e seu Gallon Drunk, este post aqui é basicamente mais um daqueles ímpetos altruístas que eu tenho de vez enquando.