Rockabilly Psicotico, garage bands, punk rock, bandas desconhecidas...

sábado, junho 13, 2009

Um, dois, três, quatro!
Aumente o som, saia pulando, fale palavrões: o rock’n’roll está completando 50 anos, mas ainda faz a cabeça dos jovens e chacoalha a sociedade
André Barcinski



Foram cinco décadas bem vividas. O rock’n’roll, quem diria, está fazendo 50 anos regados a sexo, a drogas e a ele próprio. Não pensem que foi uma vida fácil: entre tapas e beijos, o rock viveu um romance conturbado com a sociedade. Numa hora, era o queridinho de todos, para logo depois ser chutado e escorraçado como um cão sem dono.

Nesse meio século, o rock’n’roll foi celebrado por multidões, massacrado pela Igreja, explorado por publicitários, dissecado por historiadores, cooptado pela moda, malhado por puristas, dignificado pelos Beatles e maltratado por Bon Jovi e Simply Red. Passou por bons e maus bocados, e chegou a ser dado por morto algumas vezes. Mas, como fênix, sempre deu um jeito de reaparecer, resgatado das trevas por algum adolescente talentoso e entediado. É uma história e tanto.

Segundo historiadores, o marco zero do rock teria acontecido em julho de 1954, quando um caminhoneiro chamado Elvis Presley entrou no Sun Studios, em Memphis, e gravou "That’s Allright Mamma".

Vamos deixar uma coisa bem clara: Elvis não inventou o rock. Antes dele, gente como Chuck Berry e Bill Halley já tocavam rock. Desde o fim dos anos 40, "rock’n’roll" era usado em letras de música como sinônimo de "dançar" ou "fazer amor". Em 1952, o radialista Alan Freed – que depois viria a reivindicar a criação do termo – batizou seu programa de Moondog’s Rock and Roll Party.

Se não criou o rock’n’roll, Elvis ao menos pode ser considerado o mensageiro que apresentou o rock ao mundo. Era o homem certo no momento certo: bonito, talentoso e carismático. Mais importante: era branco e, por isso, aceitável para a América dos anos 50. "Eu agradeço a Deus por Elvis Presley", disse o negro Little Richard, um dos grandes pioneiros do rock. "Ele abriu as portas para muitos de nós."

A tarefa de Elvis não foi fácil: a sociedade norte-americana demorou bastante para aceitar aquele branco que cantava e dançava como um negro. Em uma de suas primeiras apresentações na TV, as câmeras o filmaram apenas da cintura para cima, sem mostrar aquele quadril que teimava em rebolar. Elvis, ao contrário de vários outros ídolos da época (como Pat Boone, por exemplo), nunca renegou a origem de sua música. "O que eu faço não é novidade", disse. "Os negros vêm cantando e dançando dessa forma há muito tempo."

Se a vida nos anos 50 não era moleza para um roqueiro branco como ele, o que dizer de artistas negros como Little Richard, Chuck Berry, Bo Diddley e Fats Domino? Num país de escolas segregadas, que ainda via negros serem linchados, o simples fato de um artista negro viajar para mostrar sua música assumia proporções épicas de heroísmo e bravura.

Uma história emblemática do período é a de Shelley "The Playboy" Stewart, um radialista negro que apresentava um programa de rock na estação WEDR, no Alabama. O programa de Stewart atraía um público predominantemente branco, que aprendera a gostar dos artistas "de cor" que o DJ tocava.

No dia 14 de julho de 1960, Stewart estava apresentando um show na cidade de Bessemer, quando recebeu um aviso do dono do clube: a Ku Klux Klan, temida organização racista, havia mandado 80 homens para atacá-lo. Os encapuzados cercavam o clube e ameaçavam invadir o local. Sem perder a calma, Stewart avisou à platéia – formada por 800 brancos – que teria de parar o show. Foi aí que o inesperado aconteceu. "Os jovens que estavam no clube se rebelaram", disse Stewart, anos depois. "Eles saíram correndo do local e atacaram a Klan, lutando por mim." A simbologia do fato é forte demais: brancos lutando contra brancos, pelo direito de ouvir música negra.

Sim, o rock’n’roll é música negra. Como o blues, o samba e o hip hop, o rock nasceu da escravidão e tem suas origens na migração forçada de milhões de africanos, que foram tirados de suas aldeias e jogados em terras estranhas. Todos esses gêneros musicais têm duas características comuns, herdadas da África: a primeira é a predominância de uma base rítmica constante e repetitiva; a segunda é a utilização da música de uma forma emocional e espiritual. Nas colheitas de algodão dos Estados Unidos, os escravos cantavam para celebrar sua espiritualidade e seus ancestrais. Também cantavam sobre as mazelas da escravidão, estabelecendo assim uma relação direta entre sua música e a realidade social. O rock herdou essa capacidade de radiografar o presente.

Na época, a sociedade americana começava a abandonar preconceitos seculares. De uma certa forma, a explosão do rock simbolizou uma América nova, mais liberal, próspera e livre das dificuldades econômicas do pós-guerra. Adolescentes brancos começaram a curtir uma música antes relegada a salões de baile nos bairros negros e pobres.

Em 1956, "Blue Suede Shoes", de Carl Perkins, tornou-se a primeira música a chegar ao topo das paradas de pop, rhythm’n’blues e country. O fato representou um marco não só para a música, mas para toda a sociedade americana. Pela primeira vez, brancos e negros estavam gostando da mesma coisa. Em 1959, outra canção, "The Twist", de Chubby Checker, também uniu o país. O ativista e autor Eldridge Cleaver, fundador do grupo radical Panteras Negras, escreveu: "A canção conseguiu, de uma forma que a política, a religião e a lei nunca haviam sido capazes, escrever na alma e no coração o que a Suprema Corte só havia conseguido escrever em livros".

O rock’n’roll não mudou a sociedade, mas serviu como espelho de mudanças e tendências. Claro que ninguém deixou de ser racista ao ouvir Elvis Presley cantando música "de negros", mas o simples fato de Elvis aparecer em cadeia nacional, rebolando os quadris e celebrando uma cultura marginal, mostrava que o país estava mudando.

Paralelamente ao surgimento do rock, a sociedade norte-americana via o aparecimento de outro fenômeno, que se tornaria vital para a explosão do rock’n’roll: o adolescente.

Até meados do século 20, adolescentes tiveram uma vida dura nos Estados Unidos. O país havia passado por duas guerras mundiais e pela Grande Depressão; ser jovem por lá significava trabalhar duro e ajudar os pais a sustentar a casa.

Para a sociedade de consumo, o adolescente não existia. Não havia música ou filmes feitos especialmente para eles. Pais e filhos eram obrigados a gostar das mesmas coisas: as big bands de Tommy Dorsey e Benny Goodman, as baladas de Nat King Cole e Frank Sinatra, a cafonice de Pat Boone e Perry Como.

Depois da Segunda Guerra, tudo mudou: os Estados Unidos entraram numa fase de prosperidade, a economia cresceu e os adolescentes, que antes davam duro ajudando os pais, passaram a receber mesada. Isso criou um novo mercado, voltado unicamente para o jovem.

Hollywood logo entrou na onda, lançando filmes direcionados aos adolescentes. Dois deles, O Selvagem (1954) e Rebelde sem Causa (1955), revelaram Marlon Brando e James Dean interpretando jovens em conflito com a geração de seus pais. A rebeldia estava na moda. Daí surgiu Elvis Presley, dando voz a uma geração cansada da caretice dos pais.

A sociedade de consumo não demorou para perceber o potencial do filão jovem. Foi só aí que o rock explodiu na América. E tome filmes, revistas, livros, badulaques, calendários e todo tipo de bugiganga direcionada aos novos consumidores. Elvis, o rebelde, tornou-se uma figura tão familiar aos lares americanos quanto o presidente Eisenhower.

As gravadoras, que nunca gostaram de arriscar, trataram de diluir o rock em fórmulas açucaradas, bem ao gosto do público branco médio. O canastrão Pat Boone, por exemplo, gravou Tutti Frutti, mudando a letra (escrita por Little Richard, negro, homossexual e orgulhoso), para não chocar as boas moças da América. Foi um estouro. Era a tal coisa: "rock sim, mas limpinho, por favor".

Apesar do sucesso, muita gente previa um fim rápido para o rock. O gênero era visto como uma moda passageira, a exemplo do calipso ou de tantas outras que tiveram seus 15 minutos de fama na América.

Para piorar, os roqueiros passavam por maus bocados no fim dos anos 50: Elvis Presley foi para o Exército, Chuck Berry ficou preso dois anos por ter atravessado uma fronteira estadual com uma prostituta menor de idade, Little Richard abandonou o rock e virou pastor depois de "ouvir o chamado de Deus" durante um vôo turbulento, Jerry Lee Lewis arruinou a carreira ao casar com uma prima de 13 anos, Buddy Holly morreu em um acidente de avião, que matou também Ritchie Valens (La Bamba) e Big Bopper (Chantilly Lace), e Eddie Cochran morreu em um acidente de carro. Quando o futuro do rock’n’roll parecia negro, surgiram os Beatles.

A influência dos Beatles é incalculável. Musicalmente, eles elevaram o rock a um nível até hoje inigualado, estabelecendo parâmetros e modelos para toda a música pop. Suas experimentações abriram novas possibilidades sonoras e ampliaram os horizontes musicais das gerações posteriores. Culturalmente, eles foram igualmente importantes: carismáticos, irreverentes e cheios de sex-appeal, eles surgiram no mundo como um sopro renovador, obliterando a caretice da década de 50 e inaugurando uma era mais livre e esperançosa – os anos 60.

O surgimento do rock e de seus primeiros ídolos – Elvis, Beatles, Rolling Stones – mudou a relação entre a música e o público. Até o rock aparecer, o "músico" – fosse produtor, instrumentista ou compositor – era visto como um profissional muito qualificado. Compositores de "música popular" eram sofisticados como Cole Porter e Irving Berlin; cantores eram Frank Sinatra e Bing Crosby.

O rock democratizou a música pop. Subitamente, qualquer um podia subir em um palco e cantar. Elvis, um caipira ignorante, passou a freqüentar as paradas de sucesso ao lado de Sinatra e Nat King Cole (dá até para entender por que Sinatra, acostumado a trabalhar com músicos experientes, não aceitou o novo estilo: "rock’n’roll é a coisa mais brutal, feia e degenerada que eu já tive o desprazer de ouvir", disse o "olhos azuis").

Essa "democracia" do rock teve um efeito imediato: os artistas ficaram cada vez mais parecidos com seu público, tanto em idade quanto em classe social. Os jovens passaram a se identificar mais com seus ídolos, estabelecendo uma relação mais próxima com a música. O rock também passou a buscar na sociedade – especialmente nos jovens – os temas de suas canções. Essa troca fez do rock a música mais popular e culturalmente impactante do século 20.

Para muitos, esse estreitamento entre artista e público também causa um declínio gradual na qualidade da música. A cada ano, um número maior de pessoas sem treinamento musical tem acesso a tecnologias de composição e gravação. Hoje, aparelhos como samplers e placas de som permitem a qualquer um gravar um disco em casa. E popularização raramente é sinônimo de qualidade.

O fato é que nenhuma outra música esteve tão sintonizada com a realidade de seu tempo quanto o rock. Desde os anos 50, ele passou a ser um espelho da sociedade, refletindo a moda, o comportamento e as atitudes dos jovens. Isso fez do rock uma música com prazo de validade, ou seja, tão ligada no "hoje" que corre o risco de sair de moda rapidamente, junto com os temas abordados (para confirmar, basta assistir a qualquer videoclipe de dez anos atrás).

Isso cria situações interessantes: o que é "bacana" e "moderno" para uma geração torna-se ultrapassado para a próxima. Sendo um gênero que se alimenta sempre do novo, o rock’n’roll gera conflito entre seus fãs. Um movimento surge como resposta ao anterior e assim por diante, numa renovação incansável.

Esses conflitos, mais que interessantes, são necessários: sem eles, estaríamos condenados à eterna repetição. Foi a partir desses "rachas" que nasceram alguns dos movimentos mais influentes do rock, como o punk, basicamente uma reação ao comercialismo e à pompa do rock dos anos 70, que havia perdido a identificação com as gerações mais novas. Ao contrário do que ocorria antes do rock’n’roll, agora ficou fora de moda curtir a mesma música que os pais. Mas isso é cíclico, claro: com o passar dos anos, a indústria descobriu o potencial do saudosismo. Hoje, temos canais de televisão que vivem de reembalar artistas velhos como se fossem a última novidade. E veteranos – como o Aerosmith, por exemplo – que, graças a seus clipes na MTV, reinventam-se para um público que nem era nascido quando eles faziam sua melhor música.

Os Beatles são um bom exemplo da capacidade do rock de se adaptar a cada época. Para entender as mudanças ocorridas nos anos 60, basta olhar as fotos do grupo durante o período. Nos primeiros anos, vestidos com terninhos idênticos e cabelos bem penteados, os quatro eram a imagem perfeita do otimismo da era Kennedy. Depois, como todos, abandonaram a inocência: os cabelos cresceram e os sorrisos deram lugar ao cinismo, enquanto Kennedy era morto e a guerra começava no Vietnã. No fim da década, quando jovens faziam passeatas na Europa, Martin Luther King era assassinado e o conflito do Vietnã piorava, os Beatles buscaram consolo espiritual na Índia, renegando o comercialismo ocidental. A banda acabou melancolicamente, junto com uma década que começara cheia de promessas e que terminava em guerra e decepção.

Não foram os únicos roqueiros que se tornaram símbolos de uma era: Bob Dylan, Jimi Hendrix e Jim Morrison também viraram ícones dos anos 60, tanto quanto o símbolo da paz ou o rosto de Che Guevara. Sid Vicious é, até hoje, a imagem mais reconhecível da rebeldia punk. E basta um passeio por qualquer grande cidade para ver, a qualquer hora, jovens usando camisetas com o semblante triste de Kurt Cobain.

Esses rostos passaram a representar mais que a simples paixão por uma banda ou artista: tornaram-se símbolos de um estado de espírito e de um jeito de ser. A iconografia, claro, reduz tudo a seu nível mais rasteiro – e um artista como Kurt Cobain, autor de dezenas de músicas, acabou reduzido a garoto-propaganda do suicídio e da alienação adolescente. John Lennon foi assassinado e virou "marca", transformado, como Gandhi, em símbolo de paz e amor. Logo ele, que nunca escondeu ter sido um pai ausente e que tratou Paul McCartney como um cachorro sarnento depois do fim dos Beatles. O rock simplifica tudo.

Talvez seja essa a razão de seu sucesso. Como bem disse Gene Simmons, do Kiss: "Eu não sou Shakespeare. Mas ganhei muita grana e transei com mais de 4 mil mulheres. Tenho certeza de que Shakespeare trocaria de lugar comigo a qualquer hora". Quem duvida?



1. The King of Rock and Roll – The Complete 50s Masters - Elvis Presley, 1992

Elvis em sua melhor fase, antes de entrar para o Exército e voltar mansinho



2. Chuck Berry – Anthology - Chuck Berry, 2000

O verdadeiro criador do rock’n’roll e melhor compositor entre os pioneiros do gênero



3. The Essential Little Richard - Little Richard, 1985

O intérprete mais explosivo do início do rock revolucionou a música com seus gritos e sua vibração



4. The Classic Years - Motown, 2000

Uma das gravadoras mais influentes dos anos 60, meca da soul music norte-americana



5. Please Please Me - Beatles, 1963

Eles chegaram como um sopro renovador e fizeram a trilha sonora perfeita para o otimismo do início dos anos 60



6. The Freewheelin’ Bob Dylan - Bob Dylan, 1963

O rock amadurece: pela primeira vez, as letras valem tanto quanto a música



7. Live at the Apollo - James Brown, 1963

O grito primal do funk, por seu maior intérprete



8. The Who Sings My Generation - The Who, 1965

Até então, ninguém havia feito um rock tão radical e barulhento; para muitos, o nascimento do punk



9. Blonde on Blonde - Bob Dylan, 1966

O atestado de maioridade de Dylan; depois disso, o rock não tinha mais desculpa para a ingenuidade



10. Pet Sounds - Beach Boys, 1966

Um sonho adolescente, embalado pelo pop mais perfeito e cristalino. "O maior disco da história", segundo Paul McCartney



11. Sargent Pepper’s Lonely Hearts Club Band - Beatles, 1967

Auge do experimentalismo do rock. Definiu sua geração e criou novos horizontes para o pop



12. Between the Buttons - Rolling Stones, 1967

Os rebeldes mostram que também têm coração



13. Are You Experienced? - Jimi Hendrix, 1967

Hendrix desfila todo seu arsenal: microfonia, psicodelia, distorção e um pé fincado na tradição do blues



14. The Velvet Underground and Nico - Velvet Underground, 1967

Inaugurou a melancolia no pop. Fez contraponto ao otimismo hippie



15. The Doors - The Doors, 1967

Pessimista e dark, embalado pela angústia existencial de Jim Morrison, na contramão do sonho hippie



16. We’re Only In It For the Money - Frank Zappa and the Mothers of Invention, 1968

Satiriza o hippismo e antecipa o fim do sonho



17. The Village Green Preservation Society - The Kinks, 1969

Os Kinks enxergam além de guitarras barulhentas e fazem o seu Sargent Pepper’s



18. Kick out the Jams - MC5, 1969

Que paz e amor nada! Neste explosivo disco ao vivo, o MC5 pregava revolução, guitarras e amor livre



19. Live Dead - Grateful Dead, 1970

Longas explorações psicodélicas, no melhor momento de uma verdadeira instituição californiana



20. Black Sabbath - Black Sabbath, 1970

Para muitos, uma brincadeira de mau gosto. Para os fãs, um disco que sepultou a inocência dos anos 60 e inaugurou o heavy metal



21. Funhouse - Iggy Pop and the Stooges, 1970

Blues, John Coltrane e punk: a fórmula de Iggy Pop neste verdadeiro clássico do niilismo



22. Greatest Hits - Sly and the Family Stone, 1970

A música negra como arma de guerra: segundo Sly Stone, a revolução só se daria com o povo dançando nas ruas



23. Led ZepPelin IV - Led Zeppelin, 1971

Jimmy Page e sua gangue se escondem por trás do ocultismo e fazem um clássico do hard rock



24. Exile on Main Street - Rolling Stones, 1972

Os Stones esquecem a pose de maus e concentram-se no que sabem fazer melhor: música sublime



25. Ziggy Stardust - David Bowie, 1972

Uma ópera-rock sobre androginia e extraterrestres. Bowie cria um mundo de fantasia e sonho, que inspirou o punk e a new wave



26. Harvest - Neil Young, 1972

Obra-prima do country rock em uma época de cantores "sensíveis", como James Taylor e Carole King



27. Transformer - Lou Reed , 1972

O subterrâneo nova-iorquino, com prostitutas, traficantes e bêbados, pela imaginação mórbida de Lou Reed



28. New York Dolls - New York Dolls, 1973

Guitarras altas, batom e roupas de mulher: os New York Dolls confrontavam com bom humor a macheza do rock da época



29. The Dark Side of The Moon - Pink Floyd, 1973

Questionamentos sobre loucura e solidão, embalados pela música mais triste a chegar ao topo das paradas



30. Ramones - Ramones, 1976

Em contraponto ao rock "sério", quatro desajustados cometem este pecado sonoro, sem solos nem pretensão. Nascia o punk



31. Never Mind the Bollocks - Sex Pistols, 1977

O conflito de gerações em forma de disco: "Somos feios, sujos e não gostamos do que está acontecendo"



32. Talking Heads: 77 - Talking Heads, 1977

O punk cresce e amadurece; o funk de branco do Talking Heads prova que há cabeças pensantes na geração 77



33. Parallel Lines - Blondie, 1978

O dia em que o punk e a new wave fizeram as pazes com o pop. Som comercial sem abdicar de seus ideais



34. Unknown Pleasures - Joy Division, 1979

Velvet Underground para as novas gerações: sombrio e mórbido, vê um mundo mais sem futuro que o do Sex Pistols



35. The Specials - The Specials, 1979

O punk inglês se mistura ao ska jamaicano, que havia anos habitava os bairros mais pobres da Inglaterra



36. Double Fantasy - John Lennon e Yoko Ono, 1980

Depois de passar anos fazendo discos políticos, Lennon e Yoko assumem a maturidade e gravam pelo simples prazer de criar



37. London Calling - The Clash, 1980

Está tudo aqui: rockabilly, reggae, ska, jazz. O grande disco que define o fim da adolescência no punk



38. Heaven Up Here - Echo and the Bunnymen, 1981

Grandioso demais para se encaixar em algum movimento musical, marca o amadurecimento do pós-punk



39. Power, Corruption and Lies - New Order, 1983

O rock abraça a música eletrônica e prova que música "de computador" também pode ter coração



40. The Head on the Door - The Cure, 1985

O Cure embala a morbidez no pop mais acessível e leva a melancolia às massas



41. The Queen is Dead - The Smiths, 1986

O rock esquece os vencedores, celebrando os desajustados, tímidos e fracassados



42. Licensed to Ill - Beastie Boys, 1986

Três espertalhões juntam rap e heavy metal e criam música negra para jovens brancos



43. The Joshua Tree - U2, 1987

O U2 ressuscita o rock político – e os fãs, apolíticos, compram sem perceber a intenção



44. Daydream Nation - Sonic Youth, 1988

Os intelectuais da guitarra fazem uma perfeita radiografia de uma geração sonada pela MTV e pelo rock comercial



45. It Takes a Nation of Millions to Hold Us Back - Public Enemy, 1988

Um libelo contra a manipulação da mídia, o "embranquecimento" da América de Reagan e o racismo



46. Out of Time - R.E.M., 1991

Rock de gente grande, com ambição e propósito, apesar do lustro pop e do imenso sucesso comercial



47. Metallica - Metallica, 1991

Representou, para a geração MTV, o que Black Sabbath foi para os jovens em 1970: a celebração da negação



48. Nevermind - Nirvana, 1991

O dia em que o punk encontrou a MTV: um disco que destruiu barreiras e que tornou obsoleto todo o rock vagabundo do fim dos anos 80



49. BloodSugarSexMagik - Red Hot Chili Peppers, 1991

Fãs de Korn e Limp Bizkit vão chiar, mas a verdade é que todo o funk metal e o nu metal começaram aqui



50. OK Computer - Radiohead, 1997

Um disco gélido, cerebral e triste, sobre a dificuldade de comunicação no fim do século. Paradoxalmente, foi um sucesso



"Por que jovens gostam de rock? Ora, porque os pais não gostam, é claro!"

Chuck Berry



"Se você se lembra dos anos 60, é porque não estava lá."

Robin Willians



"Eu odeio o Pink Floyd."

Frase escrita na camisa de Johnny Rotten, dos Sex Pistols



"Eu sou uma garota material, vivendo num mundo material."

Madonna



"Meu sonho e viver num mundo onde Lenny Kavitz nõ seja chamado de 'rock'"

Mark Arm, Mudhoney



Northern Band Rock’n’Roll

Espécie de versão com guitarra e baixo do som das big bands de Kansas City. O maior nome do estilo era Bill Halley (Rock Around the Clock)



New Orleans Dance Blues

Gênero em que predominavam baladas, tendo o piano como instrumento principal. Little Richard e Fats Domino se destacavam



Memphis Country Rock

Também chamado de rockabilly, era basicamente música caipira branca, tocada com guitarra elétrica. A gravadora Sun, descobridora de Elvis, era a meca desse ritmo



Chicago Rhythm and Blues

Versão negra do rockabilly, que teve em Chuck Berry e Bo Diddley seus mestres



Grupos Vocais

Sem instrumentos, usavam somente o gogó, em arranjos lindos. Frankie Lymon and the Teenagers era o grande sucesso



Fonte: The Sound of the City, de Charlie Gillett (Souvenir Press, EUA, 1971)



Chuck Berry

O primeiro grande compositor do rock criou riffs copiados até hoje ("Roll Over Beethoven", "Maybellene"). Compôs rocks, blues e baladas e foi também o primeiro grande "fora-da-lei" do rock’n’roll, tendo sido preso várias vezes quando adolescente (e outras várias vezes depois)



Beatles

Lançaram, entre 1965 e 67, três álbuns – Rubber Soul, Revolver e Sargent Pepper’s Lonely Hearts Club Band – que elevaram o rock a um nível artístico nunca visto. Daí experimentaram de tudo: música indiana, fitas rodadas de trás para a frente, sons de pássaros, LSD... E o rock nunca mais foi o mesmo



Bob Dylan

O primeiro grande letrista do rock. Cantor folk, chocou a platéia ao subir no palco com uma banda de rock, em 1965. Muitos previram um fracasso quando lançou Like a Rolling Stone: a música tinha seis minutos de duração, o triplo da média das canções do rádio. Foi seu primeiro grande sucesso



Brian Wilson

Mesmo surdo de um ouvido e abalado para sempre por causa dos socos que levava do pai, o líder dos Beach Boys compôs alguns dos momentos mais sublimes da música pop. Queria superar os Beatles, que considerava os únicos capazes de rivalizar com seu talento



Rolling Stones

Eram o contraponto mal comportado à simpatia dos Beatles. Foram os primeiros a subir no palco com as roupas que usavam no dia-a-dia, sem os "uniformes" usados pelas bandas – um choque na época. Resgataram o blues de Muddy Waters e Willie Dixon e exploraram a psicodelia e a música soul



Phil Spector

O mais influente produtor musical dos EUA nos anos 60. Aos 18 anos já tinha uma música no Top 10. Revolucionou as gravações com sua técnica de gravar vários instrumentos na mesma faixa, para criar uma sonoridade densa e poderosa



Jimi Hendrix

Revolucionou a guitarra e tornou-se o músico mais influente e inovador de sua geração. Seu estilo único unia o blues a distorção e microfonia. Quão bom ele era? Eric Clapton responde: "Uma vez, Jimi subiu conosco no palco e tocou Killing Floor, de Howlin’ Wolf, que eu nunca consegui tocar direito. Todo mundo ficou de boca aberta"



David Bowie

O "camaleão" do rock fez de tudo: foi menestrel hippie (anos 60), inventou o glam rock, influenciou o punk e a new wave e embrenhou-se por sons eletrônicos (anos 70). Fez dance music e trilhas para o cinema (80). Sua capacidade de se reinventar não tem paralelo no pop



Sex Pistols

Em 1976, o rock vivia uma fase tediosa, com artistas milionários tocando em estádios. Em oposição a eles, grupos como Sex Pistols, Ramones e The Clash criaram o punk, uma música crua e direta. Estouraram na Inglaterra e provaram que não era preciso ser bonito e comportado para chegar ao topo das paradas



Kurt Cobain

Conseguiu, como ninguém, capturar em música o espírito da geração MTV, marcada pelo tédio e pela paralisia em face do domínio corporativo. O Nirvana foi um caso raro de banda alternativa que fez imenso sucesso comercial e abriu caminho para dezenas de outras



Benjamin Franklin "descobre" a eletricidade (junho de 1752)

O velho Ben soltou uma pipa no meio de uma tempestade e mudou o mundo



Elvis grava um disco para a mãe (4 de janeiro de 1954)

Um caminhoneiro pobre entra nos estúdios da gravadora Sun, em Memphis, e grava um acetato para dar de presente à mãe. Meses depois, quando precisou de um cantor para gravar um compacto, o dono da Sun, Sam Phillips, lembrou-se do rapaz, Elvis. Nascia o rock’n’roll



Morte de Buddy Holly (3 de fevereiro de 1959)

Buddy Holly, Ritchie Valens e Big Bopper morrem num desastre de avião, depois de um show. Foi a primeira grande tragédia do rock, um evento que ficou marcado como "o dia em que a música morreu"



Beatles aparecem no programa de Ed Sullivan (9 de fevereiro de 1964)

Mais de 50 mil fãs brigaram pelos 703 ingressos disponíveis no estúdio da CBS. Os Beatles cantaram cinco músicas e foram vistos por 73 milhões de americanos. Nascia a Beatlemania



Beatles encontram Bob Dylan (28 de agosto de 1964)

Num hotel de Nova York, o quarteto de Liverpool foi apresentado ao maior bardo do rock e, pela primeira vez, fumaram maconha. O encontro motivou o grupo a abandonar as canções adolescentes. Ali começou a fase psicodélica dos Beatles



Woodstock: lama e paz (15 a 17 de agosto de 1969)

O auge do sonho hippie: meio milhão de pessoas se reuniram para celebrar a paz e o amor, sem policiais ou chuveiros para atrapalhar. Foram três dias de lama, drogas e muito rock’n’roll, ao som de The Who, Jimi Hendrix, Santana, Joe Cocker, Creedence Clearwater Revival, Janis Joplin, Grateful Dead e muitos outros



Altamont: violência e morte (6 de dezembro de 1969)

O fim do sonho hippie: concebido pelos Rolling Stones, o festival de Altamont terminou em tragédia quando uma gangue de motoqueiros da facção Hell’s Angels, contratada para fazer a segurança do evento, matou a pauladas um jovem negro. Outras três pessoas morreram na noite: duas atropeladas enquanto dormiam e uma terceira afogada



Sex Pistols xingam a Rainha DA INGLATERRA (maio de 1977)

Em uma esperta jogada de marketing, os Pistols lançaram o compacto "God Save the Queen" a tempo de esculhambar as comemorações do Jubileu da Rainha. O disco foi banido das rádios do país, mas tornou-se o segundo mais vendido



Estréia da MTV (1 de agosto de 1981)

Antes da MTV, o principal meio de divulgação para artistas era o rádio. Logo as gravadoras perceberam o potencial do novo canal e passaram a investir mais em clipes. A imagem de uma banda passou a ser tão importante quanto sua música. Surge a "geração MTV" com estrelas como Madonna, Duran Duran, Prince e Michael Jackson



Michael Jackson compra o catálogo dos Beatles e Elvis Presley (setembro de 1985)

Hoje, ninguém pode usar uma música dos Beatles ou de Elvis sem pedir licença a um homem que pendura o próprio filho de uma janela e que admite ter feito vodu contra Steven Spielberg



Na livraria:

The Sound of the City - The Rise of Rock and Roll - Charlie Gillett, Da Capo Press, EUA, 1970

The People’s Music - Ian MacDonald, Pimlico Books, Reino Unido, 2003

Punk na veia
Reunindo diálogos e bate-bocas de seus principais protagonistas, gente como Iggy Pop e Dee Dee Ramone, o livro Mate-me Por Favor põe o punk em seu devido lugar: as sarjetas imundas de Nova York
por Eduardo Bueno

Tudo começou em 1975, quando Eddie McNeil, então com 18 anos, e dois amigos de escola, John Holmstron (atual editor da revista High Times, especializada em drogas em geral e em maconha em particular) e Ged Dunn, resolveram fazer uma revista, baseados (e bota baseados nisso...) no sólido e irrefutável argumento de Holmstron conforme o qual, se tivessem uma revista, ganhariam “bebida de graça”. Nas palavras de McNeil, a coisa foi mais ou menos assim: “Holmstron queria que a revista fosse uma combinação de tudo em que a gente se ligava – reprises de televisão, cerveja, sexo, cheeseburgers, quadrinhos, filmes B e aquele rock’n’roll esquisito que ninguém além de nós parecia gostar: Velvets, Stooges, New York Dolls e Dictators”.

Posto isso, eles precisavam de um nome para a publicação. “Por que a gente não chama de Punk?”, disse McNeil. Segundo ele, “a palavra punk pareceu ser o fio que conectava tudo o que a gente gostava – bebedeira, antipatia, esperteza sem pretensão, absurdo, diversão, ironia e coisas com um apelo sombrio”. O dicionário diz que a palavra “punk” surgiu em 1596, “de origem obscura, provavelmente relacionado a spunk, ou ‘madeira podre’”. Mais tarde, tornou-se um substituto para “prostituta”, antes de significar “bobagem, coisa ordinária ou sem sentido”. Ou seja, a palavra perfeita para os fins perseguidos pelo trio.

No final do encontro, Holmstron se escalou para ser o editor-chefe da revista. A seguir, Dunn proclamou-se o executivo da “firma”. Como McNeil, além de meio lento, não disse nada, o sagaz homem-fumaça Holmstron matou a charada: “Você pode ser o punk de plantão!” E foi então que Eddie McNeil virou Legs, uma espécie de personagem de cartum em carne e osso, um dublê para as reportagens da revista. Ou seja, seu trabalho era o de exercer seu talento natural para tomar porres e se meter em encrencas.

A revista Punk, acredite, tornou-se um sucesso no circuito alternativo, vendendo 30 mil exemplares. Foram publicados 18 números antes de Legs sair da revista, em 1977, para fazer, aos 20 anos, seu primeiro programa de desintoxicação. Logo depois, ela acabou. Hoje, exemplares antigos são vendidos por pequenas fortunas na internet.

Os caras foram tocando a vida e os anos foram passando, quando Legs achou que os ingleses haviam se apropriado indevidamente do termo a partir da explosão dos Sex Pistols, em fins de 1977. Ele sabia que o punk era uma subcultura americana que já existia por quase 15 anos com Velvet, Stooges e MC5, entre outros. Mas Legs conta que, quando dizia que o movimento punk “já tinha donos”, e que eles não eram britânicos, ouvia o seguinte: “Você não entende. O punk começou na Inglaterra. Sabe, lá todo mundo está no seguro-desemprego, eles têm realmente do que reclamar. Punk é sobre luta de classes, economia decadente e blá, blá, blá.”

Embora argumentasse, lembrando a passagem de Malcolm McLaren (produtor dos Pistols) pelos Estados Unidos e as relações dele com os punks americanos, McNeil pensou em desistir: “Não dava para competir com aquelas imagens de alfinetes e cabelo espetado”. Os Pistols e o terremoto punk na Inglaterra pareciam ser o atestado final da vitória da imagem sobre a palavra. Aí é que entra Mate-me Por Favor – A História Sem Censura do Punk. O livro é a tentativa de Legs McNeil de recolocar as coisas em seu lugar – ou seja, nas sarjetas de Nova York.

E é daí que nascem as melhores histórias de Legs e do livro (que ele assina em parceria com Gillian McCain). Para falar a verdade, não são histórias. São conversas com os principais sujeitos envolvidos com os melhores e piores momentos do punk. Ficamos sabendo, por exemplo, que Lou Reed, o vovô do punk, que criou o Velvet Underground, nos anos 60, vivia num buraco de 30 dólares por mês, em Nova York, e que para pagar o aluguel vendia sangue e posava para jornais sensacionalistas: “Minha foto saiu dizendo que eu era um maníaco sexual que tinha matado 14 crianças e filmado tudo”, diz Reed.

Essa época, a pré-história do punk, revela a relação dos punks com Andy Warhol e a turma da Factory. No auge da onda flower power, ambos odiavam os hippies. “Paz e amor não tinha nada a ver com nada. E a gente não queria se sentir bem”, diz Scott Asheton, guitarrista dos Stooges, uma das bandas que despontavam.

“Em abril ou maio de 1970, a gente chegou para um show em Detroit e as coisas estavam mudando. O desemprego estava empurrando todo mundo para fora da cidade e ninguém estava querendo ouvir falar de ficar numa boa. Começamos a nos envolver com drogas pesadas”, afirma Iggy Pop, vocalista dos Stooges. O fabuloso, o excessivo, o lendário Iggy Pop é o personagem central de alguns dos melhores trechos do livro. É ele quem dá o tom dessa fase da música e do modo de vida dos caras.

Em 1971, na Califórnia, depois de passar horas tentando achar uma veia para tomar uma dose de heroína, Iggy estava atrasado para um show. Quem conta essa história é Dee Dee Ramone, dos Ramones, outra lenda do punk. “Ele estava puto e o show atrasado pra caramba. Mas não adiantava reclamar, o cara não saía do banheiro”, diz. Iggy se lembra assim da cena: “Eu ficava gritando ‘Cai fora!’ pra todo mundo e eles ficaram pensando, ‘Meu Deus, o cara vai morrer e blá, blá, blá’. Finalmente, lá estou eu no palco e mal entrei no lugar senti que precisava vomitar”. Dee Dee, novamente: “A banda finalmente entrou e Iggy parecia muito injuriado. Ele estava todo pintado com tinta prateada e só usava cueca. Ele estava lambuzado de tinta prata, mas o cabelo e as unhas estavam dourados. E alguém também tinha salpicado purpurina no cara. Eles entraram e ficaram tocando a mesma canção, sem parar, só com três acordes. E as únicas palavras eram: ‘I want your name. I want your number’ (‘quero seu nome, quero seu telefone’). Aí, Iggy olhou pra todo mundo e disse: ‘Vocês me dão enjôo’. E vomitou.”

Como se vê, nessa época o punk já tinha suas conexões com as artes plásticas e a poesia. E Patti Smith era uma dessas pontes: escritora, poetisa e linda de morrer. Outra influência era o teatro gay de John Vaccaro e as drag queens que inspiraram o visual andrógino de David Bowie. Em seguida, New York Dolls se tornou uma sensação fazendo um rock básico de rua e se apresentando com roupas de mulher. Bowie e os Dolls criaram o glitter rock, um primo chique e afetado do sujo e despojado punk.

Em 1975, aconteceu a história que deu nome ao livro (Please Kill Me, no título original em inglês). Segundo o autor, a frase foi tirada dos dizeres escritos a mão em uma camiseta de Richard Hell (do NY Dolls) feita por ele mesmo, e adornada com o desenho de um alvo de tiro. O fotógrafo Bob Gruen lembra que Hell vestia a camisa no clube CBGB’s na primeira vez em que se viram. “Aquilo era uma das coisas mais chocantes que eu tinha visto. As pessoas tinham idéias extravagantes naquele tempo, mas andar pelas ruas de Nova York com um alvo no peito, com um convite pra ser morto – aquilo foi um verdadeiro marco.”

Richard Hell não se lembra de ter usado a tal camiseta – “Eu era um tremendo covarde” –, mas recorda-se de ter forçado Richard Lloyd, guitarrista do Television, a usá-la. Lloyd, por sua vez, conta que decidiu usar a camiseta porque Hell, embora a tivesse feito, nunca a usava. Mas não parece ter sido uma boa idéia. “Usei quando tocamos no andar de cima do Max’s Kansas City, e mais tarde uns garotos chegaram em mim. Aqueles fãs me lançaram um olhar psicótico e perguntaram: ‘É sério?’ Daí disseram: ‘Se é isso que você quer, a gente ficará contente em obedecer, porque somos seus maiores fãs!’ Ficaram me olhando com aquele ar alucinado, e pensei: ‘Não vou usar esta camiseta de novo’.”

Mas aí vieram os Ramones, punks até os ossos, e o limites se foram. “Quando eu tinha 15 anos comecei a comprar droga no Central Park e levar ao Queens para revender. Dava para pagar o meu e ainda sobravam 5 dólares. Um dia voltei para o apartamento da minha mãe e ela ficou tão puta que jogou uma panela em mim, depois quebrou meus discos e atirou minha guitarra pela janela”, diz Dee Dee Ramone. “Decidi ir pra Califórnia de carona com uns caras num carro caindo aos pedaços. Eles andavam devagar montanha acima e depois vinham abaixo como uns doidos. Os caras pareciam doidos de verdade, falando coisas doentias. Falavam sobre como estavam a fim de arrancar a cabeça de alguém. Tinham um fio de arame e queriam enforcar alguém. Finalmente pararam num posto de gasolina em Indiana e assaltaram o lugar. Nós todos fomos presos por assalto a mão armada.”

É só então que Malcolm McLaren, o picareta brilhante que, antes de inventar os Sex Pistols, na Inglaterra, empresariou o NY Dolls, nos Estados Unidos, deu as caras. No desempenho da função, ele conheceu Richard Hell, cujo visual serviria de inspiração para a estética punk e que MacLaren tratou de levar para Londres. Para Legs McNeil e Gillian McCain, os Pistols roubaram descaradamente a estética e, de certo modo, o som de Hell e do Dolls.

“A estratégia de Malcolm para os Pistols era a teoria do caos. Estava fora do controle e não tinha nada a ver com música. Tinha a ver com o fenômeno aterrorizante que estava chegando da Inglaterra”, diz Danny Fields, que foi empresário de Iggy Pop e dos Ramones. Bob Gruen lembra-se da excursão do Sex Pistols nos Estados Unidos: “Os shows da banda eram o caos, mas a vida na turnê até que era bem comum. Basicamente a gente bebia cerveja, passava uns baseados e ouvia reggae. Mas daí o ônibus encostava, as portas se abriam, pintavam as câmeras de TV e os fãs e a loucura começava”. Segundo ele, a presença de público causava comportamentos esquisitos no grupo. “Uma noite chegamos numa parada de caminhoneiros e eu e Sid Vicious descemos para comer. Eu pedi um sanduíche e Sid pediu uns ovos. Estava tudo normal até aparecer um cowboy com a família. O cara reconheceu Sid e nos convidou para sentarmos com eles. O cowboy disse: ‘Você é o Vicious, você consegue fazer isso?’ – e apagou o cigarro na palma da mão. Então Sid pegou uma faca e furou a própria mão, o sangue começou a escorrer até chegar ao prato de ovos. Mas Sid não se importou e continuou a engolir o rango.”

Durante a estada na América, Nancy Spungen, namorada de Sid Vicious, foi morta a facadas no quarto do casal. Ele, o único suspeito, foi preso, pagou 50 mil dólares de fiança, mas não chegou a ser julgado. No dia em que saiu, tomou uma overdose de heroína e morreu.

Chegamos à década de 80 e o fim é melancólico: as bandas terminam e muita gente morre. Especialmente tristes são as mortes de Johnny Thunders e Jerry Nolan, ex-Dolls e ex-Heartbreakers, ambos vitimados pelas drogas.

sábado, junho 06, 2009

Your Arsenal



Ou como Morrissey mergulhou de cabeça no universo billy e transformou-se em ídolo no mundo inteiro.

Coleção

Morrissey
Your Arsenal (1992)

Provoçações nas letras e fotos deram o tom nervoso a Your Arsenal.

Desde o conturbado – e inesperado – fim dos Smiths, em agosto de 1987, Morrissey procurava reviver os melhores dias da carreira. Enquanto os fãs choravam debruçados sobre Strangeways, Here We Come (quarto e último álbum de estúdio, lançado quase dois meses após o vocalista confirmar em declaração ao New Musical Express o fim da banda), ele recrutava três de seus quatro ex-companheiros (o baixista Andy Rourke, o baterista Mike Joyce, o guitarrosta Craig Gannon) para sessões de gravação e os primeiros shows de sua carreira solo.

O futuro parecia promissor. Stephen Street, produtor de certeira mão pop, foi chamado para pilotar o primeiro álbum pós-Smiths. Em março de 1988, Viva Hate saiu. Nos créditos, uma mão do amigo e conterrâneo Vini Reilly (que nos anos 80 deliciava os ouvidos dos mais antenados com as texturas e colagens de seu projeto Durutti Column). Na manga, os desabafos de “Everyday Is Like Sunday” e “Suedehead”, ambos singles de extremo sucesso e até hoje cantados em uníssono em qualquer pista. Na seqüência, mais alguns compactos poderosos, como “November Spawned a Monster”, “Interesting Drug”, “Hairdresser On Fire” e “The Last Of The Famous International Playboys”, reunidos em 1990 na coletânea de lados A e B Bona Drag. Moz começava a carreira solo com pé direito. Parecia que o impossível estava concretizado: a horda de fãs arrebatados nos tempos dos Smiths nunca sentiria falta da parceria com Johnny Marr.

Cinco meses de Bona Drag, já em 1991, veio o segundo álbum de inéditas, Kill Uncle. Moz se enturmava com um novo parceiro, o guitarrista Mark E Nevin (da banda de folk pop Fairground Attraction, que anos obteve relativa projeção na Grã-Bretanha), e tentava explorar outras sonoridades que iam da influência glam do Roxy Music a orientalismos e baladas funéreas. O tiro saiu pela culatra. Apesar de bem recebido pelos exigentes críticos de sua terra no mês do lançamento, o álbum desapontou os fãs. Não teve boas vendagens, nem uma faixa sequer que despontasse como os singles anteriores.

Kill Uncle frustrou tanto as expectativas, que entraria para a história como o pior trabalho da vida de Morrissey. Mais: o fraco desempenho do disco acabou colocando em xeque a carreira. Para muitos, o vocalista estava acabado profissionalmente, incapaz de ressuscitar a antiga chama criativa. Para piorar, a letra da faixa “Asian Rut” – que tratava sobre discriminação racial – transformou-o em antagonista da imprensa. A má interpretação dos versos fez com que Moz virasse o alvo de constantes ataques dos jornalistas, que acusavam-no justamente de racista. Muito ferido e sem forças, o ídolo parecia estar definitivamente abatido. Tanto que abandonou a Inglaterra, para fixar residência de vez na cidade de Los Angeles.

Entretanto, logo entraria em ação a mão do destino para mudar tudo da água para o vinho. Durante parte da turnê americana de Kill Uncle Morrissey dividiu o palco com David Bowie, que apresentou-o ao guitarrista Mick Ronson. Mick havia tocado com Bowie na primeira metade dos anos 70. Era também guitarrista do Mott The Hopple, que estou naquela mesma época com o hit “All The Young Dudes”, balada composta por Bowie. Na adolescência, Moz idolatrava o glam rock. Estava fechado o circuito. Mesmo debilitado pelo câncer que o mataria em 1993, Ronson topou produzir o próximo disco do ex-líder dos Smiths.

Em julho de 1992 chegava às lojas o terceiro álbum solo de Morrisey, aquele que viria a ser o divisor de águas, capaz de deflagrar um novo culto à figura do cantor. Só que a adoração vista na Inglaterra no tempo dos Smiths passaria a se tornar mundial, inclusive no até então impenetrável mercado americano. A culpa não foi apenas da então ascensão do rock alternativo, que varria as paradas e os escritórios das grandes gravadoras. Morrissey descobriu na chicana Los Angeles um nicho que veio a complementar seu gosto e formação musical.

Moz descobriu o mundo billy. Seu gosto pela estética que marcou os anos 50 (topete, camiseta branca, o mito James Dean) encontrara – enfim – eco na música. Ao formar sua nova banda de apoio, recrutou o guitarrista Boz Boorer, o baixista Gary Day e o baterista Spencer Cobrin, todos músicos calejados em bandas já conhecidas no pequeno circuito [no Brasil, o gênero foi bastante cultuado em Curitiba e São Paulo]. Com a impossibilidade de contar com Nevin para compor mais de duas músicas, encontrou no segundo guitarrista, Alain Whyte, seu mais novo parceiro para composições – o suficiente para deixar ao longo dos anos mais um punhado de sucessos.

Your Arsenal representava, de cara, duas grandes mudanças para Morrissey. Era notória a força criativa do conjunto – pela primeira vez, desde o histórico The Queen Is Dead, Moz voltava a se sentir parte de uma banda unida e coesa. Isso acabou sendo traduzido em pegada selvagem e riffs capazes de conquistar já primeira audição. As letras também refletiam o estado de espírito do vocalista. Magoado com a hostilização britânica e impulsionado pela energia dos novos companheiros, ele construiu versos polêmicos, chegando a escancarar em três faixas sua revolta com o lado mais agressivo e autoritário (e menos conhecido) de seu país de origem. A provocação ainda se estendia às fotos de capa e contracapa (camisa aberta, peito nu, lingüinha de fora, microfone que sugere poder fálico) e ao título (duplo sentido que cita o nome do time de futebol mais popular do Campeonato Inglês e ainda deixa nas entrelinhas o palavrão “arse” – que em português possui apenas duas letras). Isso explica ser Your Arsenal o único álbum da carreira onde o encarte não traz a reprodução das letras – só não se sabe ainda se a decisão partiu do próprio artista ou de sua gravadora.

“You’re Gonna Need Someone On Your Side” abre o album. Faixa composta ainda no tempo de colaborações entre Moz e Nevin, ela foi totalmente revigorada pela nova banda. As guitarras de Whyte e Boorer transformaram a música em um pesado rockabilly (cujo riff faz referência ao famoso tema de Batman e a “Something Else”, de Eddie Cochran). A faixa está na abertura por questões estratégicas. Faz todo mundo esquecer o som insípido de Kill Uncle e ainda é um recado direto para seus detratores irem para “bem longe”. Durante quase toda a letra, Moz nos faz acreditar que o “someone else” de quem ele fala é uma terceira. Mas ele surpreende e emenda no final: “And here I am” (“E aqui estou eu”).

Logo em seguida, Moz apronta outra das suas. Engata uma levada glam-blues em “Glamorous Glue”, homenagem explícita a Mick Ronson, para iniciar sua relação de amor e ódio com a Inglaterra. “Tomamos conta de Los Angeles/ Por causa da linguagem que usamos/ Londres está morta”, declara, impiedosamente, citando a si mesmo. Há ainda outros versos provocativos, como “Tudo o que vale a pena no mundo está aqui”, “Não votaremos no Partido Conservador/ Porque nós nunca tivemos de fazer isso” e “Todo mundo mente, ninguém se importa”. Moz depois explicaria que compôs a letra pensando no fato de que tanto o rádio quanto a TV na Grã-Bretanha se importam muito com o que é feito no outro lado do Atlântico. “Tudo o que ocorre nos Estados Unidos é constantemente mostrado nos jornais ingleses, enquanto os americanos nunca se referem à Inglaterra e a política britânica é completamente nula para eles. Para mim, o país poderia explodir e desaparecer por completo que os jornalistas americanos não iriam sequer mencionar o fato”, explicaria Morrissey posteriormente.

A balada predominantemente acústica “We’ll Let You Know” (de singela guitarrinha jingle-jangle ao fundo) continua na mesma linha da faixa anterior. Desta vez o tema é o fanatismo violento dos torcedores de futebol e Moz adota como personagem um destes hooligans que destróem tudo e todos pela frente nos dias de jogos. Aqui o ponto de discórdia caiu sobre a frase “we are the last truly British people you’ll never know” (nós somos os últimos britânicos sinceros que vocês nunca conhecerão). Em entrevista para a revista Q, Moz explicaria a música dizendo que compreende os níveis de patriotismo, frustração e regozijo dos hooligans e que toda esta agressividade acaba tendo de ser extravazada de alguma maneira. “Desde que ninguém morra por causa disso, isso até que me diverte”, disparou. Para completar a confusão toda, a música acaba com sons de briga.

Em matéria de polêmica, porém, “The National Front Disco” superou as expectativas. Moz citava diretamente a mais racista das organizações de seu país (a National Front é o equivalente à americana Ku Klux Klan). Cantava o verso “England for the English” e, nos shows, ainda se enrolava na Union Jack (a bandeira britânica) durante a música. Todo este nacionalismo exacerbado, porém, nada mais era do que uma crítica ferina. Nessess versos, Moz fala sobre o garoto Davey e o desespero de uma mãe que “perde” seu filho para os ideais errôneos da NF. A ironia, contudo, não foi percebida e Morrissey voltou a ser alvo de furiosos ataques de leitores e articulistas nas páginas de diversos periódicos.

Não por coincidência, “Certain People I Know” sucede “The National Front Disco”. Aqui, durante a levadinha hillbilly, Morrissey parece estar cantando sobre a vida monótona de personagens classe-média. Mas também dá a entender que segue a linha “eu-amo-o-crime” que norteou algumas de suas obras (como a referência à prisão de Strangeways no título do último álbum dos Smiths ou em clássicos do grupo, como “Shoplifters Of The World Unite”). A faixa foi o terceiro single extraído de Your Arsenal e ainda homenageia outro dos ídolos glam de sua adolescência – o riff remete a “Ride Like A Swan”, hit de Marc Bolan e seu T-Rex.

“We Hate It When Our Friends Become Successful” foi o single que Morrissey precisava para levanter a carreira. Lançada três meses antes do álbum (estratégia comum no mercado britânico, para gerar expectativa nos fãs), a música levou-o de volta ao Top 20. Moz resgata sua veia cínica de outrora, brincando com a inveja alheia despertada por quem é bem-sucedido. O início é fenomenal (o nome da canção foi tirado do primeiro verso), o riff chama a atenção logo de cara e ele ainda solta uma inimaginável gargalhada “cantada” no meio da canção.

A peteca não cai com “You’re The One For Me, Fatty”. O sarcasmo continua afiado, ao fazer uma canção simplezinha (refrão-estrofe-refrão) girando em torno de um tema não muito comum nestes tempos de culto exagerado à silhueta corpórea. Pela primeira vez, os gorduchos recebiam uma declaração escancarada de amor – fato que levou Moz de volta ao Top 20 com o segundo single do álbum.

E Moz volta suas baterias novamente às suas neuroses em “Seasick, Yet Still Docked”. Com arranjo quase todo unplugged (baixo de pau, violão, dedilhado em guitarra semi-acústica, bateria reduzida ao rufar de pratos), a valsinha passeia entre a desesperança de achar o amor (“Wish I knew the way to reach the one I love/ There is no way”), intensa autodesaprovação (“But you see/ I’ve Got No Charm”) e autocompaixão (“All my life no one gave me everything/ No one has ever given me anything”). No final, porém, muda o discurso com um narcisismo bastante exagerado (“My love is as sharp as a needle in your eye/ You’d be such a fool/ To pass me by”). Obsessões românticas como estas angariaram uma extensa legião de fãs nos tempos de Smiths.

Mas Moz não é feito só de rock’n’roll. No seu background há espaço ainda para baladeiros fifities, aqueles que derretiam os corações femininos parados à frente do microfone, com voz empostada e pose de galã. Efeitos de troca de estações no dial do radio e samples de filmes em alemão dão a deixa para Morrissey viver momentos a la Johnnie Ray em “I Know It’s Gonna Happen Someday” (“My love/ Wherever you are/ Whatever you are/ Don’t lose faith/ I know it’s gonna happen someday/ To you/ (…) You say that the day just never arrives/ And it’s never seemed so far away/ Still I know it’s gonna happen someday/ To you/ Please wait”, adverte ele, reproduzindo os tons trágicos de muitas das canções daquela época. A faixa – que vem depois de “Seasick...” por ser em 6/4 – ainda seria regravada logo depois por Bowie.

Com um título emprestado de outras das paixões de Morrissey (no caso um hit gravado por Sandie Shaw em 1966), “Tomorrow” encerra o álbum com um questionamento (“does it have to come?”) e um pedido (“Tell me, tell me that you love me”). Sexualidade furtiva, frustrações, rejeição, doenças psicossomáticas... O bom e velho Morrissey está definitivamente de volta, desta vez sob nova embalagem – no caso, o invólucro billy de Whyte, Boorer, Day e Cobrin que surge depois da breve e dramática introdução em compasso ternário.

Your Arsenal ressuscitou a carreira de Morrissey. O sucesso foi tanto que a turnê do disco acabou gerando um álbum ao vivo (até agora o único na discografia solo), Beethoven Was Deaf, gravado em Paris três dias antes do Natal de 1992. Desde então, Morrissey nunca mais deixou de ser idolatrado em todo o mundo. Pelo contrário. Os fãs cotinuam seguindo de perto todos os passos do vocalista, mesmo durante o longo intervalo de sete anos sem lançar discos (You Are The Quary vem aí em maio, para encerrar com o jejum que existe desde Maladjusted, de 1997). O encontro do topetudo com os billies passou a escrever um novo capítulo de amor na história da música pop.



Ficha Técnica

Título: Your Arsenal
Artista: Morrissey
Data de lançamento: 28 de julho de 1992
Gravadora: Sire/Reprise (EUA); EMI (Brasil)
Produção: Mick Ronson

Faixas: “You’re Gonna Need Someone On Your Side”, “Glamorou Glue”, “We’ll Let You Know”, “The National Front Disco”, “Certain People I Know”, “We Hate It When Our Friends Become Successful”, “You’re The One For Me, Fatty”, “Seasick, Yet Still Docked”, “I Know It’s Gonna Happen Someday”, “Tomorrow”
Curiosidades: Este é o único álbum de Morrissey que não traz as letras reproduzidas no encarte. O motivo seriam os polêmicos versos de algumas canções. O contrataque de Morrissey à crítica e ao seus detratores na Inglaterra acabou gerando mais algumas acusações infuindadas de questionamentos raciais (por causa de letras como “The National Front Disco” e “Certain People I Know”. Este álbum marca ainda um período de mudanças na vida do artista. Ele fixa residência na chicana cidade Los Angeles, aproxima-se do mundo do rockabilly/psychobilly, inicia parceria com o guitarrista Alain Whyte e monta uma nova banda de apoio, com a qual se apresenta até hoje.