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sexta-feira, outubro 30, 2009

The Durutti Column – Love in the Time of Recession (2009)

14/06/2009 por luciano

Vini Reilly mantêm-se prolífico como nunca, lançando um álbum (às vezes dois) por ano, e apresentando agora o seu “Love in the Time of Recession”, Inspirado pelo título do romance “Amor em Tempo de Cólera”, do escritor colombiano Gabriel Garcia Marquez.

Aos que desconhecem a história desse pouco comentado guitarrista e filho menos famoso da tão falada cidade inglesa de Manchester, há que se fazer um percurso de volta ao final dos anos 70 e início dos 80; ao início da cultuada gravadora Factory, capitaneada pelo visionário Tony Wilson, falecido em 2007; e no caminho se deparar com outros nomes como Joy Divison, Simply Red, New Order, Morrissey, o produtor Martin Hannet, ou o clube Hacienda.

Passados quase trinta anos desde o primeiro álbum, “The Return of Durutti Column” (1980), criado em parceria com Hannet, aqui está Vini, esse guitarrista anoréxico, deprimido, que tem aversão a entrevistas, que não gosta de cantar, que afirma não gostar de seus álbuns, mas que extrai de sua guitarra, tocada de forma única, bonitas melodias envoltas numa espiral de melancolia.

“Todas as novas canções são uma verdadeira reflexão sobre minha vida”, declara o guitarrista sobre o novo álbum. Há homenagem ao amigo empresário Tony Wilson, na faixa de abertura “In Memory of Anthony”; ao percussionista e amigo de longa data Bruce Mitchel, em “For Bruce” e à namorada Poppy Morgan, em “My Poppy”. Inclusive ela co-escreveu diversas faixas do albume tocou piano, é uma das pessoas que aparecem na capa junto a Bruce Mitchell (percussão), Mark Broscombe, o próprio Vini Reilly, Tim Thomas (produtor), Keir Stewart (tecladista e produtor) e Laurie Laptop (produtor). “Sem a ajuda deles eu não teria sido capaz de levar adiante”, afirma Vini.

Comparado com alguns de seus trabalhos mais recentes, é um álbum com menos ênfase em elementos eletrônicos, principalmente os samples e loops, e tendência para os momentos intimistas, onde a guitarra e o piano dão a tônica das canções. É interessante a disposição de Vini para colocar sua voz em quase todas as onze canções (quatorze da versão japonesa), até mesmo em “More Rainbows”, uma faixa eminentemente instrumental, com um clima de ambient-music que dispensa vocais.

“I’m Alive” (com uma linha de baixo profunda) remete, por instantes, a momentos de “LC”, um dos melhores trabalhos de Vini, juntamente com “For Bruce” e “Paintings”, dois momentos de extrema fragilidade e beleza do álbum. Se tem uma direção para qual “Love in Times of Recession” aponta é para os primeiros trabalhos do DC, e isso aumenta a sensação de nostalgia, vide os dedilhados de “Lock-Down”.

Beleza, beleza em forma de música, é isso o que “Love in the Time of Recession” tem a oferecer, é isso o que sempre se espera de um álbum do Durutti Column. Vini não decepciona.

sexta-feira, outubro 09, 2009

Discos pe(r)didos #30



















BEAT HAPPENING
Jamboree [K, 1988]

Quando comparado com a estreia homónima de 1985, um disco pioneiro do lo-fi e do chamado twee pop, o segundo álbum dos Beat Happening (BH) será visto como uma obra registada em alta-fidelidade. Produzido por Steve Fisk e elementos dos Screaming Trees (na altura uma banda a operar num espectro bem diferente daquele em que se tornaram conhecidos), Jamboree assinala o refinamento do conceito musical muito peculiar de Calvin Johnson, uma espécie de Jonathan Richman mais determinado. Operando a partir de Olympia, no noroeste dos Estados Unidos, Calvin era também o mentor da K Records, casa de acolhimento de uma série de projectos musicais de pop geeks apostados em cristalizar os desejos e as ânsias da adolescência. Kurt Cobain, confesso adepto da ingenuidade ao serviço da pop (não só dos BH, mas também de Daniel Johnston, dos Vaselines, dos Pastels, e dos Teenage Fanclub), era devoto ao ponto de tatuar o logotipo da K no braço.
"Bewitched", o tema que abre o disco, é guiado por uma malha circular de guitarra distorcida e desafinada. A batida é repetitiva e a voz errática de Calvin confessa desejos carnais. "In Between", cantado por Heather Lewis, o elemento feminino do trio que compreendia ainda Bret Lunsford, é exemplo acabado do melhor jangle pop. Mais à frente, "Drive Car Girl" segue idênticas premissas. O terceiro tema é "Indian Summer", simplesmente a pérola no repertório dos BH. Relata um piquenique num cemitério, tendo por protagonistas dois jovens amantes que sabem que este é o último encontro. A atmosfera, quase críptica, é criada por uma estranha combinação de referências a comida, sexo, e tragédia. Dean Wareham, que com os Luna gravou uma das muitas versões de que "Indian Summer" foi alvo, refere-se-lhe como 'o "Knocking On Heaven's Door" do indie'. "Hangman", "Crashing Through" e "Midnight A Go-Go" são temas balançados entre o surf rock e o punk pop. O tema-título é esplendor lo-fi, com a voz de Calvin, a discorrer sem pudor sobre as malandrices perpertadas por dois adolescentes fechados dentro de um armário, acompanhada por uma pandeireta tosca. Já "Ask Me", novamente na voz de Heather, é uma canção essencialmente a cappella. A forma falsamente ingénua como ela pergunta "Aren't you gonna ask me what I did today?" é de despertar a líbido de um moribundo. Nos acordes graves de "Cat Walk" recuperam-se memórias do primórdios do rock'n'roll na década de 1950. Para o final, "The This Many Boyfriends Club" é o paradigma da estética BH e verdadeiro teste ao ouvinte devoto. Gravado em registo live, apresenta um Calvin atonal a tecer juras de amor a uma rapariga supostamente pouco popular. Embora completamente desafinada, a voz denota a sinceridade que raramente encontramos em cantores mais dotados. Para além do ruído de fundo resultante das conversas da platéia, o acompanhamento consiste em sons avulsos sacados da seis cordas de uma guitarra - desafinada, obviamente.
Como se depreende do que atrás foi dito, e apesar da abordagem deliberadamente inocente, há toda uma pulsão erótica que emana de Jamboree. Gerard Cosloy, figura incontornável do panorama indie norte-americano que esteve ligado à fundação das editoras Homestead e Matador, vai ao ponto de o classificar nos seguintes termos: "the most sexually charged rock LP since some Bauhaus disc I forgot the name of(...)". E, tudo isto, em apenas 24 minutos... É obra!