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domingo, janeiro 25, 2009


Escolher apenas um disco da trajetória de David Bowie para destacar aqui chega a ser um pecado. O musico tem uma das discografias mais bem sucedidas da historia do pop e sempre teve a fama de mutar musicalmente a cada novo trabalho que lançava. Low é tido como um dos pontos altos de sua carreira. Pelo menos é o meu preferido. É o tipo de disco que faz qualquer elogio parecer pequeno. Obra de um gênio.

Low é a primeira parte da lendária "Trilogia de Berlim", que marcou uma modificação radical em sua carreira . De inicio foi um grande choque para seus fãs, principalmente em seu segundo ato, composto por canções ambientes compostas em conjunto com Brian Eno. O Disco começa agitado nas canções Speed of Life, Breaking Glass e What In The Word. Logo em seguida temos a magnifica Sound and Vision, a arrebatadora Always Crashing in The Same Car. Be My Wife e A New Career In A New Town fecham de forma impecável o lado A do álbum. A segunda metade foi composta em conjunto com Brian Eno e sofreu forte influência de Another Grew World(o melhor disco solo de Eno). É hora de fechar os olhos e escutar atentamente as melodias indescritíveis de Warszawa. Nessa parte do álbum ambos se superam compondo quatro músicas ambientes com melodias simplesmente perfeitas. O disco termina de forma melancólica com Subterraneans.

Ainda em 77, Bowie lançou Heroes, segunda parte da trilogia, que ao mesmo tempo que segue a mesma lógica de seu antecessor, é um álbum bem diferente(e não menos brilhante). Dele saiu uma de suas canções mais significativas: Heroes. A trilogia termina com Lodge, que possue alguns de seus maiores sucessos: DJ, Look Back In Anger e Boys Keep Swinging. Lembrando que esse é apenas um ponto da fenomenal discografia de Bowie. Vale muito a pena procurar todos os seus discos, principalmente os lançados na década de 70.

quinta-feira, janeiro 01, 2009

A imagem do clipe em que um garoto brinca com seu cachorro nas ruínas de sua casa irrompeu nas televisões de um mundo muito esquisito: o planeta Terra de 1987. Nada pode ser mais diferente da nossa realidade que um ambiente em que não havia celular, fax, computadores em casa, internet. Nessa estranha sociedade, o maior avanço era o CD, iniciando sua popularização neste mesmo ano, com o lançamento da nova coleção de players de mesa da Phillips. Enfim, creiam, era tudo muito diferente.

Veja o póprio REM, por exemplo: a banda já tinha seis anos de carreira, ainda lançava seus discos através do selo independente IRS e enfrentava o final de uma década que primara pelo aparecimento de megapopstars, como George Michael, Madonna, Michael Jackson, Phil Collins. O recente estouro do U2 nas paradas dos dois lados do Atlântico com seu disco Joshua Tree, no entanto, dava a idéia de que uma banda de rock poderia pleitear seu espaço nesse Olimpo da fama e da superexposição na mídia.

O REM não parecia querer nada disso. Sempre foi uma banda de rock, com raízes no sul dos USA, mas que nunca pôde ser catalogada como uma formação de "southern rock", como o Allman Brothers, por exemplo. A influência do punk rock e do Velvet Underground, filtrados pelo olhar de jeca esclarecido que a banda possuía dava o diferencial que o REM precisava para merecer créditos. Vindo de Life's Rich Pageant, um quarto disco em que exorcizava uma certa seriedade e enfatizava sua pegada rock, o REM já tinha um lugar só seu no coração dos ouvintes das rádios universitárias da América. Ali, ao lado deles, batalhavam Sonic Youth, Hüsker Dü, Replacements, Pixies, ou seja, a geração que influenciaria toda a cena rock dos anos 90, todos a ponto de conquistar seu lugarzinho ao sol.

O REM mostrava mais condições para o chamado "breakthrough" e isso veio com o estouro de "The One I Love" nas paradas de sucesso. Varou o âmbito universitário e foi parar no Top Ten da Bilboard em pouco tempo. Mas Document, o tal quinto disco, primeiro a contar com a co-produção de Scott Litt (que seria o produtor do grupo dali para frente) trazia seu maior momento no que se constumava chamar de "última do Lado A". Uma virada de bateria seca introduz o ouvinte num turbilhão punk que poucos ousariam fazer naquele tempo. Michael Stipe entra com o pé na porta e solta em velocidade warp uma série de pequenas análises do que 1987 parecia aos olhos do americano esclarecido - uma espécie não tão rara quanto pensamos - e apontava uma metralhadora vocal giratória em todas as direções possíveis. “It's The End Of The World As We Know It (And I Feel Fine)”, ou seja, "é o fim do mundo como o conhecemos e eu me sinto bem", cunhou expressão idiomática e passou a ser uma espécie de "prima indie" do nascente sucesso da banda.

Mesmo que seu clipe passasse sempre na MTV e nos programas de clipes primitivos daqui (Clip Clip, da Globo; FMTV, da Manchete; BB Videoroll; da CNT) a música guardava uma aura de contestação - real - que se tornaria uma marca registrada do REM, algo que eles estavam a ponto de perder um ano antes e que jamais deixariam de lado até hoje.

O fim do mundo como o conhecemos foi erguido sobre riffs muito velhos, mais precisamente, de 1964/65, de uma canção de Bob Dylan, chamada "Subterranean Homesick Blues". É uma metáfora poderosa para a vindoura overdose de informações que caracterizaria nossas vidas a partir da década seguinte, que enfileira pessoas e momentos do século XX, numa espécie de aula de História de quatro minutos e pouco de duração. O instrumental é puro country-punk, uma cruza maluca entre Byrds e Hüsker Dü ou Dylan e Replacements e sua letra quilométrica nunca foi problema para as multidões que se formaram a partir dali nos shows do REM.

“It's The End...” não chegou às paradas e nasceu torta, filha de uma outra canção, chamada "Bad Day". A banda não conseguia fechar esta música e ela ficou arquivada por um ano, sendo totalmente trabalhada e reescrita por Peter Buck, que manteve os acordes principais e a mesma nota. Somente em 2003 o REM lançaria a versão final – e muito parecida com “It's The End” - para “Bad Day”, em sua coletânea The Best Of REM.

Document foi o último disco da banda pela pequeno selo IRS e seu sucessor, Green, de 1989, já seria lançado pela Warner, que comprara o passe do REM na negociação mais cara da época, por cinco discos a serem lançados.