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quinta-feira, julho 30, 2009

Soy un perdedor

Hitmaker da country music, ídolo de carreira meteórica e comportamento pessoal completamente desregrado. Hank Williams foi fulminante como o sofrimento que cantava em suas músicas. Ao contrário de se espelhar no bom-mocismo dos heróis do Velho Oeste dos filmes que marcaram sua adolescência, ele personificou o primeiro loser do gênero, o que o aproxima bastante do rock’n’roll, que viria a dominar o mercado americano logo após a sua morte trágica e precoce. Abonico R. Smith conta a história do mito, homenageado em um belo e tocante álbum-tributo.

Hank Williams cantava tragédias amorosas e desgraças pessoais em versos de acentuada melancolia.

Falar sobre Hank Williams significa falar sobre os maiores estilos musicais americanos da história, o country. E não é só isso. Williams também foi o maior artista proto-rock’n’roll que existiu anos antes deste gênero explosivo ser reconhecido publicamente como a grande ameaça à moral e os bons costumes da elite branca, conservadora e detentora do poder político-econômico dos Estados Unidos da primeira metade da década de 50. Por isso, ele é o objeto de homenagem de um dos primeiros grandes discos-tributos do século 21, Timeless (Lost Highway/FNM) .

Hiram King Williams nasceu no dia 17 de setembro de 1923, na cidade de Georgiana, estado do Alabama. Aos seis anos, ingressou no coro da igreja local, aprendendo a trabalhar com a capacidade vocal, o que viria a ser uma das marcas registradas de sua carreira. Com 13, venceu um concurso de jovens talentos, o que o aproximou daquela que viria a ser pelos próximos dez anos sua banda de apoio, o Drifting Cowboys.

Aquela foi uma época de ouro da country music. Estas canções tiveram origem nas baladas anglo-celtas trazidas pelos pioneiros da colonização do interior dos Estados Unidos (chamados appalachians). Conforme as fronteiras se expandiam rumo à costa oeste, novas referências (sobretudo o tango e a valsa, adquiridos através da cultura hispânica que subiu do México para o Texas e o sul da Califórnia. Os primeiros indícios de aumento de popularidade vieram a partir do uso destas músicas nos grandes musicais vaudeville, empreendidos por companhias que percorriam todo o país nas primeiras décadas do século 20. O rádio logo tirou proveito: a partir de 1925, as noites de sábado transformaram a cidade de Nashville, no Tenessee, na capital do estilo, quando um programa chamado Grand Ole Opry era transmitido ao vivo de um teatro, revelando calouros e estrelas como Roy Acuff.

Não houve como segurar o estouro. Os trinta milhões de ouvintes conquistados rapidamente fizeram Hollywood perceber a mina de ouro. Com o advento das produções sonoras, diversos longa-metragens vieram a ser produzidos. Atores/cantores como Gene Autry e Roy Rogers se tornaram ídolos nacionais enquanto as platéias se encantavam com o mito dos heróis do Velho Oeste.

O jovem Williams cresceu e começou sua carreira artística em meio a todo este furacão promovido pelo rádio e pelo cinema. Até que resolveu trocar a companhia dos Drifting Cowboys pela busca do sonho dourado. Desembarcou em Nashville com 23 anos, para tentar a sorte no centro de ebulição da country music. Não tardou muito para conseguir um contrato para lançar discos pelo selo da MGM e fazer apresentações regulares em teatros da cidade. Até que chegou ao Grand Ole Opry em 1949, ano em que a parceria com seu produtor, Fred Rose, desencadeou uma invejável série de hits – registrados por Williams ou regravados por estrelas ascendentes de então. “Lovesick Blues”, “You’re Gonna Change”, “Long Come Lonesome Blues”, “Cold Cold Heart”, “Jambalaya”, “Hey Good Lookin’”, “Honk Tonk Blues”, “Your Cheatin’ Heart”, “Move It On Over”, “Mind Your Own Business”, “My Buckets Got A Hole In It”, “Why Don’t You Love Me”, “Why Should We Try Anymore”, “Crazy Love”, “Baby We’re Really In Love”, “Settin’ The Woods On Fire”, “Wedding Bells” e “Half As Much” foram alguns dos sucessos.

Contudo, Hank Williams estava longe de personificar a bravura e o bom-mocismo dos heróis do Velho Oeste de sua adolescência. Ele era, na verdade, o primeiro loser do gênero. Cantava os excessos, desgraças e tragédias e ainda vivia da mesma forma fora dos palcos e estúdios. Apesar da enorme popularidade, o comportamento errático e completamente desregrado pôs a ruir rapidamente tudo o que havia conquistado em menos de três anos. Em agosto de 1952, o alcoolismo levou-o a ser demitido do Grand Ole Opry. Pouco tempo depois, sua esposa Audrey Shepherd pediu o divórcio.

Hank, ainda assim, não se afastou do excesso de bebidas, drogas e mulheres. No dia 1º de janeiro de 1953, enquanto um motorista o levava para uma apresentação em Canton, em Ohio, Williams adormeceu no banco traseiro do carro. Teve um ataque fulminante do coração. Morreu com 29 anos, deixando um filho de três anos (Hank Williams Jr, que seguiria, sob o apelido de Bocephus, carreira de sucesso como cantor e compositor country) e um último hit com o premonitório nome de “I’ll Never Get Out Of This World Alive”.

Doze de suas clássicas composições foram agora regravadas em Timeless, por seis gerações de discípulos confessos. Os participantes são Johnny Cash, Keb’ Mo’, Bob Dylan, Keith Richards, Mark Knopfler, Tom Petty, Sheryl Crow, Lucinda Williams, Emmylou Harris, Beck e Ryan Adams – muitos destes nomes possuem suprema importância na evolução e história do rock’n’roll e são típicos representantes do cruzamento entre o rock e o country (em sua forma mais tradicional ou na vertente folk, mais próxima das origens das canções européias trazidas pelos colonos ). E, claro, o DNA não podia faltar – a família Williams vem representada pelo jovem neto, Hank III.

Dylan abre o álbum com uma composição pré-Ole Opry. O bluegrass “I Can’t Get You Off My Mind” traz uma desilusão amorosa escancarada por Williams (e nesta gravação ressaltada pela voz mais-que-anasalada do intérprete) em quinze versos diretos e altamente poéticos como “You believe that a true love is blind/ So you fool every new love you find/ You’ve got stars in your eyes/ But they can’t hide the lies/ Oh, I can’t get you off of my mind” (“Você acredita que o verdedeiro amor é cego/ Então você tapeia todo novo amor que encontra/ Você possui estrelas nos seus olhos/ Mas elas não podem esconder as mentiras/ Oh, não consigo tirar você do meu pensamento”).

Sheryl Crow vem em seguida optando por uma arranjo mais tradicional em “Long Gone Lonesome Blues”. Peca apenas pela falta de ousadia, afinal poderia ter explorado mais a tragicômica melancolia pós-chute-na-bunda de versos como “I went down to the river to watch the fish swim by/ But I got to the river so lonesome I wanted to die/ Oh, and then I jumped in the river/ But the doggone river was dry” – “Desci até o rio para observar os peixes nadando/ Mas eu cheguei lá tão abandonado que eu queria morrer/ Oh, e então eu pulei no rio/ Mas o maldito rio estava seco). Mas a moça acaba brilhando na hora do vocal yodel (aquela tremidinha entre graves e agudos que dói no ouvido).

Em “You’re Gonna Change (Or I’m Gonna Leave)” Tom Petty segue Sheryl Crow e também opta pelas eletrificações estridentes do new country americano dos anos 80 – exemplar este que acabou sendo importado pelos sertanejos brasileiros e hoje sobrevive nas arenas de rodeios em Barretos e diversas outras cidades interioranas de estados como São Paulo e Paraná.

Keb’ Mo’ puxa a balada valseada “I’m So lonesome I Could Cry” para o blues (com direito a steel guitar e solo de violino). Logo depois, Beck resgata a veia criativa esquecida nos tempos anteriores ao estouro de “Loser”. Enche de barulhinhos, ruídos e timbres graves a baladaça “Your Cheatin’ Heart” e por quase quatro minutos ressuscita aquele cara legal que sabia fazer barbaridades com um violão em punho pelas ruas de Los Angeles.

Quem também surpreende é Keith Richards. Ás da guitarra, ele deixa de lado a habilidade em seu instrumento para brilhar como vocalista em “You Win Again” – mais uma composição em três por quatro e que neste disco ganhou arranjo levemente direcionado ao soul. Richards transpõe para a interpretação todo o sofrimento de versos como “Just trusting you was my great sin/ What can I do, you win again” (“Ter acreditado em você foi o meu grande pecado/ O que posso fazer se você ganha novamente”).

Ryan Adams, expoente da recente safra alt-country, pega o filé mignon “Lovesick Blues”, o maior hit deixado por Williams. Aposta na simplicidade, sua marca registrada. Emociona com vocal yodel e acompanhamento de violão e rabeca. E ainda abre o caminho para a faixa seguinte, “Cold Cold Heart”. A tristeza sem fim também parece tomar conta de Lucinda Williams, que acentua a letra deprê-total com fundo tecido por violinos ao fundo e solo de dobro.

Emmylou Harris e Mark Knopfler fazem dobradinha discreta nos compassos ternários de “Lost On The River” e “Alone And Forsaken” – ambas tendo como destaque do choroso bandolim tocado por Mike Henderson. Já Hank III, descendente da lenda, é mais corajoso ao mostrar o quanto vovô era rock’n’roll. “I’m A Long Gone Daddy” era puro rockabilly de baixo-de-pau, antes mesmo do próprio existir através de Bill Haley, Gene Vincent e Eddie Cochrane. Os versos também podem ser entendidos como um recado familiar (“I’m leavin’ now, I’m leavin’ now/ I’m a long gone daddy/ I don’t need you anyhow” ‘”Estou indo embora, estou indo embora/ Já sou gente grande, papai/ Eu não preciso mais de você”).

Pioneiro da mistura entre country e rock’n’roll na gravadora Sun (que também revelou nomes como Elvis Presley, Jerry Lee Lewis e Roy Orbison na década de 50), Johnny Cash fecha o álbum recitando o amor de Williams por sua mãe e as lembranças da infância voltando à mente através de um sonho. A música é a grande declaração de amor que Williams nunca conseguiu fazer para suas mulheres em suas composições. Belo e tocante, um ótimo encerramento para homenagear aquele que sofreu tanto em cima dos palcos. E fora deles também.

quinta-feira, julho 16, 2009

Futebol, samba e punk rock
Estilo contestador logo cruzou o Atlântico e chegou ao Brasil

O sincronismo dos punks nacionais com os ingleses e americanos foi admirável. Em 1978, o Brasil já podia se orgulhar (ou não) de ter seu primeiro grupo punk, o Restos de Nada, do qual faziam parte Clemente e Ariel, que hoje tocam nas bandas Inocentes e Invasores de Cérebro. O primeiro disco punk brasileiro, a coletânea Grito Suburbano, com Cólera, Olho Seco e Inocentes, saiu em abril de 1982, mesmo ano em que a inofensiva Blitz ensaiava “Você Não Soube Me Amar”. Grande parte dos grupos paulistanos que formaram a primeira geração, como Lixomania, Ratos de Porão, Hino Mortal e Fogo Cruzado, participaram do festival O Começo do Fim do Mundo, no Sesc Pompéia, em 1982. Calado por um tempo, o punk retornou com força no início dos anos 90, impulsionado pelo grupo Nirvana e o fenômeno grunge. O gosto pelo som rápido, simples e divertido, chamado de hardcore, é a principal característica da nova geração. Enquanto bandas pioneiras como Cólera e Ratos de Porão seguiram o caminho independente, nomes como CPM 22 e Dead Fish pularam para o grande mercado fonográfico, alcançando imensa popularidade.
O melhor de Sid
O baixista deixou parco legado

Cultuar a discografia de Sid Vicious não é fácil. Oficialmente, o Sex Pistols lançou só um álbum – e consta que Sid nem tocou nele. Mas o baixista exerceu seu lado crooner em algumas apresentações registradas de forma caseira. As músicas se repetem em diversos títulos, exigindo cuidado para não levar, sob capas diferentes, o mesmo show para casa.

Sid Sings

Primeiro lançamento solo póstumo de Sid Vicious, pe-la Virgin. Contém “Belsen Was a Gas”, que alguns acreditam ser a única composição da qual ele realmente participou.

Better (to Provoke a Reaction than to React to Provocation)

Gravado no Max’s Kansas City, em 1978. Acredita-se que ele foi acompanhado por Johnny Thunders (guitarra), Walter Lure (guitarra), Billy Rath (baixo) e Jerry Nolan (bateria), membros do New York Dolls.

Live at the Electric Ballroom

Antes de se mandar para os Estados Unidos, Sid arrecadou algum dinheiro com essa apresen-tação com The Vicious White Kids, banda especialmente criada para a ocasião. É seu melhor registro ao vivo.
Saiba mais

Livros

Chaos – The Sex Pistols, de Bob Gruen, Omnibus Press (em inglês)

A caótica passagem da banda pelos Estados Unidos.

O Que É Punk, de Antonio Bivar, Editora Brasiliense

Um tanto sentimental, captou os primeiros anos do movimento no Brasil.

Mate-me Por Favor – Uma História Sem Censura do Punk, de Legs McNeil e Gillian McCain, L&PM Editores

Os últimos dias de drogas e a decadência de Sid Vicious em Nova York. Essencial.

Filmes

The Great Rock’n’roll Swindle, dirigido por Julian Temple

Filme irregular em que Malcolm McLaren revela como criou o punk. Uma das melhores cenas mostra Sid cantando “My Way”.

Sid & Nancy – O Amor Mata, dirigido por Alex Cox

Um tanto desprezado pelos próprios punks, faz um romance do tipo Romeu e Julieta do punk rock.

O Lixo e A Fúria, dirigido por Julian Temple

Excelente documentário, narra o início e o fim do Sex Pistols, com cenas exclusivas.

Site

www.philjens.plus.com/sid/
Bem completo, traz entrevistas com o roqueiro, além de fotos e documentos.